Recentemente, assisti ao filme A Garota Ideal (Lars and the Real Girl), estrelado por Ryan Gosling. Lançado em 2007 e classificado como comédia, o longa surpreende pela profundidade emocional e abordagem delicada sobre temas como solidão, saúde mental e vínculos afetivos.
Gosling interpreta Lars, um homem introvertido, gentil e emocionalmente retraído, que escolhe o isolamento como forma de autoproteção, apesar das constantes tentativas de sua pequena comunidade em integrá-lo socialmente. A trama se desenrola a partir de uma escolha inusitada: Lars inicia um “relacionamento” com uma boneca inflável adquirida pela internet. À primeira vista, o enredo pode parecer absurdo ou cômico. No entanto, à medida que o filme avança, somos convidados a compreender as camadas mais profundas dessa relação simbólica. A boneca representa, para Lars, um espaço seguro, um lugar de acolhimento emocional, onde ele pode projetar amor, aceitação, silêncio e presença, sem o risco de rejeição. É um vínculo idealizado, mas profundamente revelador. Essa narrativa me remeteu a outro fenômeno contemporâneo: os bebês reborn, bonecos hiper-realistas que muitas pessoas adotam como substitutos afetivos. Em ambos os casos, vemos manifestações simbólicas de uma necessidade humana fundamental: conexão emocional. A busca pelo afeto, pela companhia e pela segurança afetiva ultrapassa a racionalidade e revela o quanto, mesmo em um mundo hiper conectado digitalmente, ainda estamos enfrentando uma solidão crônica, muitas vezes silenciosa e bem disfarçada. A presença, o toque, a troca, ainda que simulada ou imaginada, parecem funcionar como paliativos emocionais. E, como terapeuta, isso me leva a refletir:
Por que tantos estão buscando carinho, cuidado e vínculo em figuras inanimadas?
A resposta, talvez, esteja na previsibilidade. Bonecos não abandonam, não julgam, não impõem condições. Estão ali, silenciosos, constantes, disponíveis. Representam um tipo de relação segura, mesmo que fictícia, num mundo onde a vulnerabilidade emocional frequentemente se depara com rejeição, indiferença ou abandono. Mas, esse tipo de vínculo simbólico também nos oferece pistas importantes para o autoconhecimento. Ele nos convida à autorreflexão:
· O que esse tipo de conexão está tentando me revelar?
· Que parte de mim está sedenta por escuta, por toque, por afeto genuíno?
· Como posso começar a nutrir essa parte dentro de mim antes de projetá-la em outro, seja real ou imaginário?
A jornada para construir relacionamentos verdadeiros e parcerias saudáveis começa dentro. Requer coragem para encarar a própria solidão sem fantasias, e disposição para curar feridas antigas com presença consciente, nossa e dos outros. Nestas questões começa a coragem de enfrentar a própria solidão e buscar fontes verdadeiras de ajuda para dores reais, que o inanimado não tem o poder de curar.
Grande abraço!
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