A última semana foi marcada por mais um (lamentável) capítulo da democracia brasileira: a participação do candidato Pablo Marçal em um debate realizado por canais de imprensa com candidaturas para a cidade de São Paulo. O candidato mais uma vez protagonizou cenas patéticas e agressivas, todas elas com um único intuito: produzir vídeos e materiais para as redes sociais. Contando com a “ajuda” de um Guilherme Boulos compreensivelmente irritado com a atuação do coach, os recortes receberam enorme repercussão no Instagram, principalmente pelo caráter bolsonarista que o candidato vem adotando durante essa corrida eleitoral.
O volume de interações produzido pelos materiais do coach não deve ser interpretado como surpresa, uma vez que Pablo Marçal já figurava antes da corrida eleitoral entre os atores que mais geravam engajamento nas redes sociais brasileiras. É essencial relembrar que estamos falando de um ator que ao longo dos últimos anos investiu enormes quantias de dinheiro em sua autopromoção nas redes sociais, bem como obrigou governo federal e imprensa a despender enorme energia e dedicação para desmentir supostas fake news disseminadas pelo influenciador/coach no episódio da tragédia humanitária do Rio Grande do Sul. Portanto, devemos interpretá-lo não apenas como um suposto outsider que explora as “benesses” do bolsonarismo, mas sim como um ator que consolidou com muito investimento sua atuação como coach por meio das redes sociais e que, de maneira oportunista, busca explorar agora (de maneira explícita) o bolsonarismo e a ausência de tração ou qualquer aderência à campanha insossa de Ricardo Nunes até aqui.
Os resultados atingidos até aqui pelo coach devem ser vistos portanto sob dois aspectos: a sólida construção digital do candidato ao longo dos últimos anos e a disposição para dialogar, ainda que nas redes, com o bolsonarismo. Isso, claro, cobra seu custo: nos últimos dias um suposto conflito explícito divide atores bolsonaristas e coloca de um lado Carlos Bolsonaro e seu séquito, enquanto apoiadores de Marçal digladiam publicamente.
É necessário apontar dois pontos importantes: o enfrentamento a um ator público como Pablo Marçal nunca será feito com base na lógica do jogo eleitoral. É imprescindível entendermos que a campanha – bem como os gastos – de um ator como o coach não “respeitam” as regras eleitorais. De outro, vale ficarmos atentos para as fissuras que essa crise interna ao bolsonarismo irá produzir.
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