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Lenio Streck

Jurista, professor e advogado; doutor em direito; autor de 82 livros e 360 artigos em revistas especializadas.

O consumidor foi esquecido ou ‘vou estocar café’

Perdemos a vergonha, o bom gosto (de comida e musical) e a capacidade de indignação
30/11/2023 | 05h00

Hoje a coluna é diferente. Tem de ler toda para entender. Aliás, descobrir que as pessoas, regra geral, não gostam de textos com mais de dez linhas. Arrisco fazer maior.

Já fiz uma série de textos sobre a péssima qualidade dos cafés (infusão de rubiácea) servida nos hotéis do Brasil. Ando de norte a sul. Não encontro nenhum hotel que sirva um café que não seja daqueles feitos em pequenos tanques ou vindos de máquinas tipo 3 corações.

É qualquer coisa. Menos café. Em Belo Horizonte, achei que encontraria um café decente. Afinal, Minas produz os melhores cafés. Pois o hotel ESuites serve, pasmem, café 3 corações…de máquina. Ah, diz a moça gentilmente, não precisa pegar da máquina. Pode ser café passado, nas térmicas. Perguntei: – qual é o café? Ela respondeu: 3 corações. Desmaiei.

Há uma conspiração do mau gosto nacional. Só pode. Os gerentes de hotéis se reuniram para um grande golpe nas papilas gustativas da malta.

Faça o teste: cheire o café. Três corações, Pilão etc. Tudo a mesma coisa. Chego no aeroporto. Confins. Quero tomar um café. Na maioria dos bares e quejandos, o que vejo? O símbolo 3 corações. Ou Nescafé, outra “conquista” dos CEOs de hotéis e restaurantes.

Quero tomar uma cerveja, então. Pronto: por esquemas das cervejarias, só tem uma marca. O restaurante só vende Heineken. Ou Brahma.

Olho em roda. E vejo as pessoas tomando café e cerveja.  Passo no Starbucks. Croissant? Hum, hum, Gorduroso e recheado com queijo. Qual raios inventou essa tralha de recheio de queijo no croissant?

E os preços? Um pão de queijo e um café com leite (argh), quase 30 reis. Por aí. Segue o baile.

No Brasil perdemos algumas coisas com o correr do tempo: a vergonha, o bom gosto (de comida e musical) e a capacidade de indignação.

Por falar em música, sentei-me para tomar um gim tônica e fui expulso por Gusttavo Lima, que berrava uma música chamada Super-Ex no alto falante do bar. Espantoso. Agora entendo por que o sertanejo universitário tem esse tipo de letra e música. O cara canta: – hoje é sexta feira e vou beber. Garçom me traga mais cigarros. Minha mulher me deixou…

Ora, por que ela deixou o sujeito? Muito simples: quem canta desse jeito a esposa ou namorada não aguenta e expulsa de casa.

Daí surge o paradoxo tipo Tostines: ele é expulso porque canta essas coisas ou canta essas coisas porque é expulso?

Eis a questão. Vou estocar comida. Ou fugir para as montanhas. Para colher um bom café!

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