Deu na Folha de S. Paulo: “Segundo analistas de mercado, a reação repentina, já no fim do pregão, foi atribuída ao novo procedimento médico pelo qual passará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)”.
No mesmo jornal, vários analistas e banqueiros especulavam sobre as vantagens de ter Lula vulnerável em uma sala de cirurgia. O desejo de morte ou de eliminação do petista do jogo político contaminou as entrelinhas e subiu nos ares da Faria Lima. Leia o noticiário econômico, e não só da Folha, e veja os corvos e secadores tentando se equilibrar no poleiro da sintaxe fúnebre.
Os urubus da especulação (assanhados como em poemas de Augusto dos Anjos) ficaram eufóricos desde a chegada do presidente Lula no Hospital Sírio Libanês, na madrugada da terça-feira, 11. “Croac, cuá cuá”, crocitaram em OFF para as colunas e assessorias econômicas da mídia. OFF é quando a onomatopeia chega às redações sem ninguém assumir a maldade ou o chute — inclusive o chute apocalíptico sobre inflação e Juros mortais.
O caso é que a cirurgia de urgência do presidente Lula assanhou os corvos da extrema direita, animou os sanguessugas do mercado financeiro (tiraram até o pé da especulação dolosa por um instante) e fez dos analistas políticos os melhores geriatras do país.
Setores da esquerda também ensaiaram alguma perplexidade: como encarar a direitona reaça sem o candidato mais competitivo que o campo progressista já teve em toda a sua história? Que reserva aqueceria no banco para substituir o ídolo? Fernando Haddad? Camilo Santana? Quem mais?
De repente, pulamos do pré-Natal de 2024 direto para a campanha de 2026. Com o Papai Noel patriota de Balneário Camboriú balançando o seu saco verde e amarelo na nossa frente — desculpa, mas pintou essa cena bizarra no meu pesadelo sobre passagem brusca do tempo.
O certo é que o efeito Joe Biden rondou os trópicos. O presidente dos EUA deu adeus às armas no ano passado, aos 81, depois de ter suas condições físicas e cognitivas questionadas por dirigentes e eleitores do Partido Democrata.
Aos 79, sem o menor sinal de fraqueza ou falta de vitalidade física, Lula junta verbo, sujeito e predicado como poucos políticos brasileiros ou líderes mundiais. Há bateria para queimar como um José Mujica, o companheiro uruguaio que só se aposentou à beira dos 90.
Lula não é do sertão, mas é antes de tudo um forte.
O agreste, no caso Caetés (ex-distrito de Garanhuns), também faz suas criaturas inoxidáveis, seres tirados do barro que fica entre a zona da mata e a pedra-de-amolar sertaneja. Agrestino com passagem pelo mangue da Baixada Santista e formado no chão da fábrica do ABC.
Um forte que superou a fome, a triste partida, o pau-de-arara, a migração climática, a fome de novo na sua feição urbana e sudestina, o chão da fábrica, o dedo na prensa, o piquete do sindicato, o cassetete da polícia bandeirante, a cana ainda na ditadura, o câncer na garganta, o cale-se da cadeia lavajatista, a disputa eleitoral contra um Bolsonaro em estado de golpe permanente no Palácio do Planalto, o plano golpista de 2022, a tocaia com possibilidade de envenenamento planejado pelos militares, o terrorismo do 8 de Janeiro, a agiotagem da Faria Lima, a queda no banheiro do Alvorada, a “independência” do BC de Campos Neto, o cangaço novo de Arthur Lira, a hemorragia intracraniana, o diabo a quatro.
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