Depois de muitos, muitos anos, voltei a morar em SP. Estava sempre por aqui, mas faltava viver efetivamente as camadas do tempo cotidiano da cidade. De domingo a domingo. O barulho, o cheiro, a multidão no metrô. Os cantos, prantos, desencantos, gente do mundo todo. O trânsito, a Paulista, o Bexiga. A eterna paisagem nublada e cinza.
Pois bem. Saio do trabalho, passo pelo Paraíso e dobro a 13 de Maio. Desço a Bela Vista, pizza ou esfiha? Quibe. Paro no Al Janiah. Mereço uma cerveja? Duas! Entro. Um gole de cerveja e uma bandeira da Palestina. Um portenho chamado Léo, parente de um tangueiro histórico, me dá uma aula de música popular argentina. Ouço. Ele também vende lenços feitos por mulheres muçulmanas da Índia. Compro.
Parece que vai começar um samba. Canto. A bandeira palestina me fita. E tem gente da Síria, do Líbano, Marrocos, Palestina. E tem gente de Sampa, do Rio e da Bahia. E numa outra mesa, também sozinha com sua cerveja dolorida, uma moça iracunda anuncia: “Netanyahu genocida!”
Ps.: Dedico a coluna de hoje ao meu amigo Uldomiro Jr., de Sapopemba para o mundo.
Ps.2:
“O mundo caquinho de vidro
Tá cego do olho, tá surdo do ouvido
O mundo tá muito doente
O homem que mata, o homem que mente”
(Karnak, O Mundo.)
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