Eu o conheci em 2007.
Logo nos primeiros momentos em que conversamos, apesar da minha profunda emoção e reverência à sua carreira, comecei a conhecer Carlos Lyra pessoa.
Conversamos sobre vários assuntos e, sendo o intelectual que era, me trouxe visões diferentes de certezas que eu carregara pela vida.
E assim se seguiram os próximos 10 anos de muita amizade, risos e puxadas de orelha que eu merecia, principalmente sobre mim mesma.
O primeiro livro que me sugeriu foi O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir, que obviamente ele leu no seu original em francês. Extremo defensor das mulheres e seus direitos. Se quisesse tirá-lo do sério era dizer algo que infringisse respeito, justiça ou cuidado às mulheres. Rangia os dentes e dizia verdades, sem medo ou julgamento e se precisasse entraria em uma boa briga até com qualquer Lobo Bobo que o afrontasse.
Contava histórias como ninguém, principalmente as de sua parceria com Vinícius de Moraes. Histórias incríveis, que recheava com humor inteligente.
Chorar não era difícil quando algum amigo apresentava alguma canção que o emocionava profundamente. Era o que o amigo precisava, como aprovação para terminar o projeto inacabado, pois sabia, que não necessariamente seria um sucesso, mas era de altíssima qualidade.
O que eu aprendi com ele:
– Muitas vezes a prestar mais atenção em mim.
– Que ler será sempre a sua maior arma de argumentação.
– Que sexo é bom demais, mas isto eu já sabia….
– Que se fizer pasta, mas não tiver queijo para colocar em cima, nem o convide que ele não se sentará à mesa e se irritará profundamente com você.
– Que um bom whisky, vinho ou café ao lado de amigos é impagável, lógico, com um charuto de boa qualidade ao final da noite ou ao amanhecer, quem sabe?
Foram anos inesquecíveis, de muita amizade, aprendizado e admiração.
Acredito que ele nunca tenha sabido a sua influência na minha vida e em muitas das minhas decisões, mas eu sei.
Ainda nesta Primavera vai-se Carlos Lyra, para algum lugar, que ele mesmo não se importava saber onde era. Segue acompanhado de Maria Moita, Minha Namorada, Maria Ninguém, canções que continuam aqui e vibrando em nossos corações.
Sinto-me honrada pelo privilégio que tive em conhecê-lo.
Adeus Carlos Lyra,
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