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Por Felipe Rabioglio*
A sede da Secretaria de Transportes de São Paulo foi palco de um protesto contra a privatização das linhas 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade da CPTM, nesta quinta-feira (27). O ato, organizado pelo movimento Não Privatiza e composto por familiares e amigos de ferroviários, denunciava os impactos da concessão para os trabalhadores e a população. A manifestação terminou com forte repressão policial e relatos de violência contra os participantes.
O leilão dessas linhas está marcado para amanhã, sexta-feira (28), e os manifestantes buscam anular ou adiar a decisão. Apesar da mobilização, o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, já declarou que pretende seguir com as concessões mesmo diante de uma possível greve.
Violência policial e falta de diálogo
A manifestação expôs a forma como o governo do estado lida com a mobilização popular. Segundo os organizadores, o ato na Secretaria de Transportes tinha como objetivo buscar diálogo com o governo. No entanto, os manifestantes foram alvo de violenta repressão policial. “A polícia agrediu companheiros, jogou gás de pimenta e bombas de borracha na população que passava na rua. Uma mulher foi puxada pelo cabelo e arrastada”, relatou Roseli Simão, que participou da mobilização.
Os manifestantes também criticaram a falta de transparência e a ausência de consulta popular sobre a privatização. “Se a empresa foi construída com o dinheiro dos trabalhadores, deveríamos ter o direito de decidir se queremos vendê-la ou não. Pedimos um plebiscito, mas não tivemos resposta.”

Protesto terminou com violência policial. (Foto: Reprodução/Instagram)
O impacto da privatização para os trabalhadores
Segundo a liderança da ocupação, a privatização das linhas trará consequências graves para a classe trabalhadora. Um dos principais pontos levantados é o aumento do desemprego, já que, historicamente, empresas privadas que assumem serviços públicos realizam cortes massivos de funcionários. “Eles vão demitir sem se importar se o trabalhador é velho, se tem problema de saúde ou se precisa do convênio médico. Esses trabalhadores vão engrossar a lista de desempregados e de pessoas passando fome”, afirmou Roseli Simão, líder do movimento.
Além disso, os manifestantes alertam para a precarização do serviço, caso seja feita a privatização. “A empresa que compra a CPTM não está interessada em servir a classe trabalhadora, está interessada apenas no lucro”, afirmou a liderança. Ela citou exemplos de outras privatizações, como a Enel e a Sabesp, que, segundo ela, pioraram a qualidade dos serviços prestados. “Hoje a conta de luz está mais cara e o fornecimento de energia é instável. Na Sabesp, em áreas mais pobres, a água muitas vezes não chega.”
Outro ponto destacado foi o impacto da privatização no dia a dia dos trabalhadores que dependem do transporte público.
“Com a piora no serviço, os atrasos serão mais frequentes, e o patrão não quer saber se o trem teve problema. Ele quer o trabalhador lá na hora. Se começar a chegar atrasado, será demitido, principalmente as mulheres, que são as primeiras a serem mandadas embora.” completou Roseli.
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Apesar da repressão, os manifestantes afirmam que seguirão mobilizados. “Hoje à noite teremos uma assembleia dos ferroviários e não vamos recuar. Ainda há a possibilidade de impedir o leilão e até rever outras privatizações já feitas”, declarou Roseli Simão.
*Estagiário sob supervisão de Bia Abramo
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