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ONG faz ato e pede ao prefeito do RJ volta de homenagem a crianças vítimas de violência

Principal alvo do protesto foi prefeito Eduardo Paes que ordenou a retirada dos cartazes
01/02/2025 | 18h04
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A ONG Rio de Paz fez neste sábado (1º) um ato pedindo a volta dos cartazes com fotos de crianças vítimas de bala perdida, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Ao ato aconteceu na altura da Curva do Calombo, onde estava a homenagem.

O principal alvo do protesto é o prefeito Eduardo Paes (PSD) que, em dezembro do ano passado, ordenou a retirada dos cartazes. Na ocasião, o alcaide justificou que a instalação não estava autorizada.

No mesmo local, foi mantida outra instalação, em homenagem a policiais mortos. Isto também é motivo de questionamento por parte da Rio de Paz, que pede ainda a criação de um memorial em homenagem às crianças.

“Parece que arrancaram mais uma vez a Ester de mim”.

O desabafo é de Thamires de Assis, mãe de Ester de Assis, morta aos 9 anos, por bala perdida, em 2023, ao ter que retirar a foto da filha do mural do Rio de Paz, na manhã deste sábado (1º), na Lagoa. As imagens foram recolocadas por algumas horas para marcar os 30 dias que o prefeito Eduardo Paes mandou arrancar as fotografias do memorial da ONG em homenagem às crianças mortas por bala perdida, no Rio.

Na ação, também foram colocadas novas placas de PMs mortos este ano na instalação que o Rio de Paz também mantém em homenagem aos policiais assassinados, já que elas não foram proibidas pelo prefeito, ao contrário das imagens das crianças mortas. O prefeito Eduardo Paes até agora não se pronunciou sobre o assunto e nem recebeu as famílias dos pequenos.

“Mais uma vez me sinto desrespeitada por não ter o direito de ter a foto do meu filho em um lugar público. Ter que tirar a foto do Thiago e das outras crianças foi muito triste”, lamentou Priscilla Menezes, mãe de Thiago Menezes Flausino, 13 anos, assassinado por PMs, na Cidade de Deus e, 2023. “Outros nomes de policiais, infelizmente mortos esse ano, foram incluídos hoje (sábado) e vão permanecer. Por que as placas dos policiais podem ficar e a dos nossos filhos, não?”, questionou Priscilla.

“Só peço que ele (prefeito) trate as crianças da mesma forma que ele está tratando os policiais. Por que só eles têm o direito e as crianças, não?”, quer saber Thamires.

Dia 23 de janeiro, uma reunião das mães e integrantes da ONG com Paes foi marcada por intermédio da secretária de Meio e Ambiente e Clima, Tainá de Paula, que recebeu o grupo no início de janeiro. No entanto, com apenas uma hora de antecedência, quando todos já estavam na prefeitura para o encontro, ele foi desmarcado e, desde então, todos esperam por uma nova data.

Novas placas de policiais

Mortos na semana passada num intervalo de apenas 24 horas, os PMs Diogo Marinho Rodrigues Jordão, de 37 anos, e Marco Paulo Freire Azevedo, de 38, tiveram seus nomes colocados na Lagoa, neste sábado, no mural em homenagem aos PMs assassinados. A placa com o nome do PM José Oliveira de Amorim, de 35 anos, morto em operação nesta sexta-feira (31), será afixada na Lagoa assim que ficar pronta.

No local, foi possível constatar que parte do gradil antes enferrujado, onde ficam pendurados os nomes dos PMs, foi consertada. E, em um trecho onde um pedaço da grade havia sito totalmente corroída pela ferrugem, foi restaurado. Esse e outros problemas estruturais da Lagoa foram denunciados pela jornalista Flavia Oliveira, em sua coluna na CBN Rio, quando ela questionou a retirada das fotos das crianças pela prefeitura que alegou ser a decisão uma questão de ordem urbana. No entanto, ainda há partes da grade bastante enferrujadas.

“Não é fácil ser policial militar no estado do Rio de Janeiro. Muitos tombam em operações que não têm nenhuma razão de ser, por isso essa justa homenagem. Mas, por um motivo que nós não conseguimos entender e muito menos aceitar, o prefeito exigiu que nós retirássemos a homenagem prestada a essas crianças. Os cartazes referentes aos policiais vão ficar aqui. Agora, as fotos das crianças vamos ter que tirar. Todas. Por quê? Qual o motivo?”, questionou, mais uma vez, o fundador da ONG Rio de Paz, Antonio Carlos Costa que, novamente, lembrou ao prefeito da importância das fotos das crianças.

“Prefeito, essa é uma forma pacífica, democrática e justa de lutarmos pelo direito à vida, e vida dos nossos pequeninos”, finalizou ele.

Além da volta das fotos à Lagoa, a ONG Rio de Paz também quer a construção de um memorial em homenagem a essas crianças, na Zona Sul. “E o mais importante: queremos o fim desse morticínio de crianças, a face mais hedionda do crime”, disse Antonio.

Mural das crianças

O memorial em homenagem às crianças mortas por bala perdida de PMs assassinados foi instalado na Lagoa há 9 anos quando o médico Jaime Gold foi morto vítima de latrocínio naquele local, em 2015. No dia 28 de dezembro de 2024, as placas com os nomes das crianças foram substituídas por fotos dos pequenos, mas arrancadas pelo prefeito menos de 24 horas depois sem que houvesse comunicação com as famílias ou com o Rio de Paz.

No local, havia 49 fotografias de crianças e adolescentes assassinados entre 2020 e 2024, no governo Cláudio Castro. Mas esse número aumentou para 50 porque, já na segunda quinzena de janeiro deste ano, o Rio registrou mais um caso de criança morta por bala perdida, o primeiro de 2025. Nycolly Moraes da Silva, de 12 anos, atingida por um tiro quando foi comprar um refrigerante. O caso aconteceu em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. A mãe da menina também foi baleada e sobreviveu.

E a instalação em homenagem às crianças mortas sempre foi de conhecimento do prefeito Eduardo Paes. Em 2022, ele gravou para o documentário sobre a ONG ‘A Estética da Luta’ (disponível no Globoplay), admitindo que não gosta do mural mas reconhecendo a importância dele. “Adoraria chegar ali e dizer não pode mais isso, mas é uma realidade da cidade. Acho que esse espírito provocador, que trabalha com muita competência essa história da imagem, é muito importante para a gente que é autoridade”, disse ele, à época.

*Com Tempo Real

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