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Orlando Curicica diz que chegou a vender carro para pagar propina a Rivaldo Barbosa

Miliciano afirmou que delegado acusado de planejar morte de Marielle transformou DH em balcão de negócios
27/03/2024 | 13h12

O miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, acusou em depoimento ao Ministério Público do Rio (MPRJ) o delegado Rivaldo Barbosa, preso por envolvimento no homicídio de Marielle, de ter transformado a Delegacia de Homicídios (DH) num balcão de negócios.

Orlando Curicica afirmou que Rivaldo Barbosa recebia propinas para não elucidar assassinatos cometidos pela máfia que controla o jogo do bicho no Rio de Janeiro. O miliciano revelou que chegou até a vender um carro para pagar R$ 18 mil ao delegado e se livrar de uma acusação de posse ilegal de arma. A informação foi dada pelo jornalista Rafael Soares, do jornal O Globo.

Rivaldo Barosa: considerado acima de qualquer suspeita até pela família de Marielle. Foto: Reprodução

“Houve uma busca e apreensão na minha casa e foi achada uma pistola, só que eu não estava em casa. E eles fizeram contato comigo dizendo que iam botar a responsabilidade da arma na minha mulher. Eles me pediram R$ 20 mil pra não imputar a minha mulher a posse da arma. O doutor Rivaldo. Na época, eu tinha uma Palio preta, eu consegui vender por 18 mil e mandei o dinheiro pra DH. Esse dinheiro foi junto com o advogado que levou, foi o mesmo que levou a minha mulher pra ser ouvida. Enquanto ouviram a minha mulher, houve pagamento da extorsão. Ele nunca mais mexeu no inquérito. O inquérito é de 2013 e está no sistema até hoje, sem solução”, disse Orlando aos promotores.

Depoimento de Orlando Curicica

Em 2018, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) abriu um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para apurar a corrupção na Delegacia de Homicídios. A investigação segue sem conclusão até hoje.

O depoimento de Orlando ao MP foi utilizado no relatório final da investigação da PF que aponta os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e Rivaldo Barbosa como mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco.

Orlando Curicica chegou a ser apontado como um dos mentores da execução de Marielle por uma testemunha “plantada” para prejudicar a investigação: o PM Rodrigo Ferreira, o Ferreirinha, seu rival pelo controle de favelas de Jacarepaguá. Os investigadores, no entanto, descobriram que o depoimento de Ferreirinha foi forjado para atrapalhar as investigações.

Na época do depoimento, no entanto, Curicica ainda achava que poderia ser condenado pelo crime e, por isso, resolveu contar o que sabia. Segundo o miliciano, a corrupção na Delegacia de Homicídios se intensificou a partir de 2015, quando Rivaldo Barbosa assumiu a direção.

“Ele passou a chefiar as três DHs. É como se fosse uma Polícia Civil dentro da Polícia Civil. Era muito mais fácil para você extorquir. O que a contravenção faz? Ela faz jogo e ela mata. E o que é mais grave? Você pegar o cara sentado ali e escrevendo um jogo do bicho ou você ter que acusar o bicheiro de um homicídio? (…) A contravenção nunca parou de matar. Ela mata até hoje. A diferença é que ela hoje não é investigada”, contou o miliciano.

Orlando revelou, ainda, que remessas de dinheiro provenientes da cúpula da contravenção eram entregues mensalmente dentro da DH por um policial civil ligado ao bicheiro Anísio Abrahão David.

“Bom, você tinha um policial civil entrando numa delegacia da polícia civil. Então você tinha tranquilidade para fazer essa entrega. Entendeu? Não havia dificuldade. (…) Pedia pra falar com o delegado, entregava o dinheiro. Pra quem não sabia, passava despercebido. Um policial entrar numa delegacia, qual a anormalidade disso?”, afirmou.

Homero das Neves Freitas Filho, promotor hoje aposentado, segundo Orlando Curicica, recebia pagamentos de R$ 30 mil mensais provenientes da contravenção. Homero foi responsável pelo caso Marielle em seus primeiros seis meses.

“Há vários casos que o Dr. Homero atuava com o que eles chamavam de “enxugar o inquérito”. Como é que funciona isso? Eu sou amigo ou eu pago para ser amigo. Então, ele evita produzir prova contra mim. Como assim? Existe uma filmagem do local onde houve o homicídio. Eu seguro essa busca e apreensão por mais de 30 dias. Por quê? Porque toda gravação se renova com 30 dias. Então eu só libero essa busca e apreensão pra essa câmera depois de 30 dias. Porque eu já tenho a certeza de que o que estava gravado já foi apagado. Essa era uma das formas. A outra é a não localização de testemunhas. Normalmente quando se localizava uma testemunha, quando se mandava a intimação não conseguia se achar, ou as perguntas feitas não querem direcionar para a pessoa tal, mas normalmente manter o inquérito enxuto. A expressão usada era essa, normalmente enxugar o inquérito, não deixar nada no inquérito que amanhã ou depois possa ser usado. Era dessa forma que se trabalhava”, disse o miliciano.

A atuação de Rivaldo Barbosa e Homero Freitas Filho foi citada no relatório final do caso Marielle. “Essa combinação explosiva entre a perniciosa atuação da Delegacia de Homicídios e a omissão do controle externo promovido por Homero é, sem dúvidas, uma das importantes variáveis da equação que culminou com o atual cenário da Segurança Pública no Rio de Janeiro”.

Foto: Divulgação

O que dizem os acusados?

O advogado Alexandre Dumans, que defende Rivaldo Barbosa, afirma que seu cliente nega veementemente ter recebido propina para sabotar investigações.

Homero Freitas Filho afirmou, em nota, o depoimento de Araújo é “uma tentativa desesperada de se livrar das imputações que lhe eram feitas, sem qualquer coerência e, por óbvio, corroboração”.

Leia, na íntegra, a nota de Homero Freitas Filho:

“Nunca soube da existência dessa acusação. Nunca fui comunicado ou chamado para dar qualquer explicação. Certamente por ter sido feita por um presidiário, miliciano, assassino perigoso, preso em um Presídio Federal de Segurança Máxima.

Está havendo uma inversão de valores onde um criminoso sem nenhuma credibilidade acusa e coloca em dúvida o trabalho de quase 30 anos de um Promotor de Justiça, que o denunciou no mês de julho de 2018, juntamente com mais quatro comparsas, como mandante da morte de Carlos Alexandre Pereira, colaborador do então Vereador Marcello Siciliano, fato amplamente divulgado na época.

Taís alegações mais parecem uma tentativa desesperada de se livrar das imputações que lhe eram feitas, sem qualquer coerência e, por óbvio, corroboração.”

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