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Valdemar Figueredo (Dema)

Idealizador e coordenador desde 2017 do Observatório da Cena Política Evangélica pelo Instituto Mosaico (www.institutomosaico.com.br). Pós-doutorando em sociologia pela USP. Doutor em ciência política (antigo IUPERJ, atual IESP-UERJ) e em teologia (PUC-RJ). Pastor da Igreja Batista do Leme e da Igreja Batista da Esperança, ambas na cidade do Rio de Janeiro.

Ovelhas desgarradas do cercadinho bolsonarista

Um dia após resultados das eleições municipais, Otoni de Paula tripudiou sobre a família Bolsonaro pela derrota de Ramagem
08/10/2024 | 07h20

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) foi o coordenador da campanha do Eduardo Paes (PSD-RJ) entre os evangélicos. Reeleito com 60,47% dos votos válidos, Paes cumprirá o seu quarto mandato como prefeito do Rio de Janeiro.

O MDB lançou a pré-candidatura à prefeitura do Rio de Janeiro do Otoni de Paula durante a convenção do partido na quinta-feira, 15 de fevereiro deste ano. No entanto, na sexta-feira, 14 de junho, ele desistiu após encontro com Paes.

Até então, para o extravagante pastor filiado à Assembleia de Deus Ministério de Madureira, era Deus no céu e Bolsonaro na terra plana. O que o fez romper com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e maldizer a candidatura do Alexandre Ramagem (PL-RJ)?

Um dia após a eleição (07) se pronunciou. Segundo ele, o senador Flávio Bolsonaro atuou no PL para implodir a sua candidatura pelo MDB. Preterido, fechou com Paes.

Traçou um paralelo entre ele no Rio de Janeiro e Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo: ambos teriam sido vítimas da família Bolsonaro, que não admite a ascensão de novos líderes identificados com a direita conservadora evangélica.

Acha mesmo que foi um dos principais responsáveis pela reeleição do prefeito e se gaba por não ter permitido que o PT indicasse o companheiro de chapa do Paes. Para Otoni de Paula, no seu delírio de grandeza, numa só jogada política ele teria, simultaneamente, contrariado a família Bolsonaro e impedido que o PT fizesse o vice-prefeito do Rio.

Os sinais são ainda tímidos, mas, nestas eleições municipais de 2024, mais nitidamente nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, é perceptível que ovelhas do bolsonarismo começaram a desgarrar. A questão não é de ordem estatística, mas, sugere casos exemplares com potencial de se alastrarem.

Marçal em São Paulo arrebanhou centenas de líderes que se identificaram como da direita conservadora evangélica. Contudo, o grupo não obedeceu aos gritos do Malafaia nem ficou sob o mando da família Bolsonaro.

Na cidade do Rio, berço do bolsonarismo, a candidatura do Paes conseguiu o silêncio obsequioso do guloso Malafaia e a adesão fervorosa da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, liderada pelo bispo Abner Ferreira, que alega amizade com o Paes.

A direita conservadora evangélica é pragmática. O fenômeno do bolsonarismo conseguiu algo inédito, congregar os diversos grupos evangélicos para o mesmo projeto de poder. No entanto, pela natureza do grupo, as novas circunstâncias definirão o processo de desagregação.

A direita conservadora evangélica brasileira é historicamente infiel. No realismo político bolsonarista, líderes usam a Bíblia só como amuleto. Evitam a ética da convicção e aderem a conveniência da ética da responsabilidade.

BenzaMaxWeber!

Em Madureira, Paes samba na Portela e no Império Serrano, despacha no Mercadão e ora na Catedral da Assembleia de Deus Ministério de Madureira.

Olhando para a direita conservadora evangélica bolsonarista percebo a rotinização do carisma. Os movimentos ainda são tímidos nesse sentido, mas, se anunciaram nas eleições de domingo (06) como prenúncio, princípio das dores.

Amém, igreja? Amém, amém e amém!

 

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