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Padre participou de reunião com Bolsonaro onde foi discutida a minuta do golpe

O padre de Osasco já tinha o telefone de Jair Bolsonaro na nuvem de contatos há 11 anos
28/11/2024 | 07h59

Por Heloisa Villela

No núcleo jurídico da tentativa de golpe de Estado, descrito no relatório da Polícia Federal, aparece um nome surpreendente. O do padre José Eduardo de Oliveira. Ele tinha relações com dois articuladores do golpe e, pelas mensagens encontradas nos celulares da organização criminosa, pode ter mentido durante depoimento à PF.

José Eduardo de Oliveira, o chamado “padre de Osasco”, era conhecido nas redes sociais pelos vídeos que gravava e divulgava fazendo campanha contra o aborto, reclamando de músicas que considerava influências negativas para os jovens e outros temas da chamada “guerra cultural”. O padre foi alvo de busca e apreensão da operação Tempus Veritatis, em fevereiro, e faz parte da lista dos 37 indiciados pela PF na quinta-feira da semana passada. Ele teria auxiliado a redigir o plano de golpe.

Conversas recuperadas no telefone do padre foram cruzadas com informações de passagens aéreas e mostram que ele viajou de São Paulo a Brasília no dia 24 de outubro, data da reunião no gabinete do general Braga Netto marcada para poucos dias antes do segundo turno das eleições presidenciais.

Padre de Osasco esteve em Brasília para reunião com Braga Netto

Nas conversas com o então assessor da Presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, no WhatsApp, na manhã do dia 24, José Eduardo de Oliveira avisa que está em São Paulo a caminho do aeroporto, para embarcar para Brasília.

Já no aeroporto, José Eduardo informa que, chegando à capital, seguiria direto para o gabinete de Braga Netto, citado como BN. “Filipe, já estou no aeroporto, embarco daqui a pouco para BSB. Vou direto ao gabinete do BN, aguardar a reunião”, escreveu o padre. A mensagem foi enviada às 5h08 e o vôo decolou às seis horas. Ele voltou a São Paulo na tarde do mesmo dia.

Em depoimento, José Eduardo negou que tivesse participado da reunião no gabinete do general candidato a vice na chapa de Bolsonaro. “Contrariando os elementos de prova, JOSE EDUARDO, em termo de declarações, prestado à Polícia Federal, negou que tenha participado da reunião no dia 24/10/22, no gabinete de BRAGA NETTO. INDAGADO qual foi o teor da reunião realizada no escritório do general BRAGA NETTO no dia 24.10.22, respondeu QUE não participou dessa reunião”, diz o relatório.

O padre de Osasco já tinha o telefone de Filipe Martins entre os seus contatos desde pelo menos 2018. Outro nome que aparece na lista de contatos dele é o de um dos filhos de Jair Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro passou a ser um dos contatos de José Eduardo no dia 18 de novembro de 2022, véspera da reunião com o ex-presidente, no Palácio da Alvorada, para tratar da elaboração do decreto do golpe.

Porém, a relação mais antiga é com o próprio Jair Bolsonaro que aparece, na nuvem de contatos do padre, pela primeira vez, há 11 anos.

Em 2022, o padre José Eduardo criou um novo nome na agenda de telefones, agora de Jair B, referência ao ex-presidente. Esse contato foi criado no fim de novembro, como aponta o relatório da PF: “Neste caso, chama a atenção que os metadados do arquivo indicam que o contato foi criado no dia 18/11/2022 às 21h07min15seg32, noite anterior a uma das datas em que ocorreu (sic) os encontros entre FELIPE MARTINS e o então Presidente JAIR BOLSONARO para tratarem da minuta de Golpe de Estado, onde também esteve presente o padre JOSE EDUARDO”.

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