Por Pedro Vilas Boas
(UOL/Folhapress) – O pai de Marco Aurélio Cardenas Acosta, estudante morto pela PM-SP em 20 de novembro, escreveu uma carta aberta ao presidente Lula (PT) em que cobra punição aos policiais e lamenta a perda do filho.
Júlio César diz que o assassinato do jovem é a pior tragédia da vida dele e da família, segundo a carta obtida pela reportagem. “O assassinato do meu filho Marco Aurélio, estudante de quinto ano da faculdade de medicina, cheio de saúde e alegria, da maneira mais cruel e covarde pelo Estado de São Paulo, pelas mãos de membros da PM e cumplicidade de toda a hierarquia superior”.
O médico escreve que perdeu a alma após a morte do filho. “Hoje não tenho vida nem essência, nada. Um fantasma vale mais porque ele tem alma, e eu, não”. No texto, o médico rebate a versão dos policiais de que Marco Aurélio tentou pegar a arma de um deles.
Em outro momento da carta, Júlio César critica o secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite. “Apesar de ser um oficial com antecedentes e frases incentivando a morte e violência, paradoxal e inexplicavelmente é responsável pela segurança dos cidadãos”.
Derrite foi retirado da Rota, grupo de elite da PM, em razão do grande número de confrontos e de pessoas mortas em serviço. Em 2021, ele admitiu o motivo da saída do grupo. “A real? Porque eu matei muito ladrão”, disse.
O pai do estudante chama o lamento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de hipócrita. “Após 40 horas de pressão total de toda a mídia do país pelo covarde crime de Marco Aurélio, anunciou um lamento”.
“Apelo ao Sr. Presidente, minha última esperança para aliviar a dor da minha família, de outras mais e poder amanhã salvar nossos próprios filhos, escreveu Júlio César.
Mudança de discurso
Em meio à alta na violência policial, Tarcísio mudou o discurso e chegou a admitir que estava errado sobre as câmeras corporais. O governador disse que câmeras são “instrumento de proteção da sociedade e do policial”.
Porém, Derrite segue fazendo declarações a favor dos policiais. Durante um evento na sexta-feira (13), ele afirmou que os policiais são os “únicos e verdadeiros promotores de direitos humanos”. Já Tarcísio pediu para que os agentes não se afastem do que foi ensinado.
Especialistas questionam a mudança de discurso de Tarcísio, que não levou à queda do secretário. “Ele joga para o público um tipo de discurso, mas afaga a instituição quando mantém o secretário, que já tem um histórico de práticas questionáveis na instituição”, disse o sociólogo Renato Alves, em entrevista ao UOL na quarta-feira (18).
Estudante morto
Um policial militar matou o estudante com um tiro à queima-roupa em um hotel na zona sul de São Paulo, na madrugada do dia 20 de novembro. Os policiais envolvidos no caso foram afastados.
Os policiais chegaram ao local e viram o estudante “bastante alterado” e agressivo, segundo o boletim de ocorrência. Ele chegou a ir para cima dos policiais.
Um vídeo de câmera de segurança flagrou o momento em que o estudante é morto. Ele volta ao hotel enquanto é perseguido pelos agentes e é puxado pelos policiais.
Um dos policiais cai no chão após Marco Aurélio puxar a perna dele. Nesse momento, o outro agente atira à queima-roupa.
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