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País vive estagflação vigorosa com a maior inflação mensal desde o Plano Real, avaliam economistas do ICL

Para reverter alta dos preços, tudo indica que governo vai reagir com novas altas da Selic, debilitando ainda mais a atividade econômica
11/04/2022 | 13h14

Desde o que o Real foi adotado como moeda oficial do país, em 1994, nunca havia ocorrido um crescimento inflacionário mensal tão intenso quanto o registrado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, que chegou a 3,20% e acumula alta, nos últimos 12 meses, de 11,30%.

Alguns dos motivos têm sido amplamente descritos, como a influência da guerra entre Rússia e Ucrânia, a forma como a Petrobras realiza seus reajustes, as pressões internacionais oriundas dos preços das commodities, problemas climáticos que reduzem a produção de bens in natura etc. No entanto, avaliam os economistas do Boletim Economia Para Todos Investidor Mestre, André Campedelli e Deborah Magagna, “o que não pode ser esquecido é que, mesmo diante de todos estes problemas que afetam a inflação brasileira, não existe nenhum movimento eficaz para que a situação seja revertida e a única coisa que o Brasil ainda faz é persistir na elevação da taxa Selic como mecanismo de controle das possíveis elevações de demanda, sob justificativa de isso se faz necessário para corrigir possíveis riscos fiscais”.

Para eles, o que levou o Brasil a ter esse índice tão elevado medido em março é a absoluta estagnação econômica e os problemas de custos que a economia enfrenta. Os resultados do IPCA de fevereiro e do IPCA-15 de março ainda não haviam refletido a alta do preço dos combustíveis, “mas quando observado o IGP-DI, que também foi divulgado na última semana, é nítido que o índice de março ficaria em um nível extremamente elevado, uma vez que os custos ao produtor estavam muito elevados”, avaliam.

O preço para entregar produtos aumentou consideravelmente, e uma parte desta alta já foi repassada aos preços, o que impactou quase toda a cadeia de preços do Brasil. Isso faz com que alguns bens, que não deveriam estar com comportamento de alta no momento, estejam com aceleração constante. O aumento dos preços ao produtor foi repassado aos preços finais e finalmente impactaram o IPCA no final de março. Segundo Campedelli e Magagna, “a alta dos combustíveis não impacta somente o consumidor final que abastece seus automóveis, mas também toda a cadeia produtiva brasileira, que depende do modal rodoviário para realizar a logística de seus produtos”.

Na análise dos economistas do ICL, essa aceleração constante dos preços se deve, primeiro, porque a alta dos combustíveis é quase que uma certeza hoje na vida dos brasileiros, o que faz com que os agentes se antecipem e reajustem os seus preços antes dos custos de fato se elevarem. Assim, roupas e outros itens de uso pessoal estão com seus preços subindo mesmo sem aumento da procura por estes bens e sem uma alta significativa de suas matérias-primas.

Em segundo lugar, o aumento do preço dos alimentos está mais acentuado agora do que estava no ano passado. Então, são duas grandes frentes de impacto na inflação, os alimentos e os combustíveis, e não é mais possível descartar uma inflação novamente acima de 2 dígitos para este ano.

Campedelli e Magagna explicam que “o Brasil está numa estagflação ainda mais vigorosa do que poderíamos imaginar. A inflação deve vir mais acelerada do que o esperado, enquanto as atitudes para controlar o nível de preços devem desacelerar cada vez mais a atividade econômica brasileira”. Isso porque, diante do resultado, o governo deve aumentar ainda mais a taxa Selic na próxima reunião do Copom, o que se tornará mais um empecilho para o crescimento econômico e debilitar ainda mais a já frágil atividade econômica brasileira.

Presidente do BC afirma que inflação recente foi “surpresa”

Em evento promovido pela Arko e Traders Club nesta segunda (11), o presidente do Banco Central, Campos Neto, disse que o núcleo de inflação (que desconsidera itens mais voláteis) está muito alto e que é preciso avaliar a surpresa recente de alta nos preços para observar se essa tendência de alta muda.

Em apresentações recentes, Campos Neto vem afirmando que o BC pode rever seus posicionamentos e aumentar o aperto monetário se observar novos choques sobre a inflação.

Redação ICL Economia
Com informações do Boletim Economia Para Todos Investidor Mestre e das agências

 

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