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Petrobras reapresenta projeto para exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas, alvo de disputa entre Meio Ambiente e Minas e Energia

Anúncio foi feito pelo próprio presidente da estatal, Jean Paul Prates, em sua conta na rede social Twitter
26/05/2023 | 13h08

O polêmico projeto da Petrobras para exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas ganha novo capítulo. A companhia anunciou que reapresentou o pedido para explorar a região, que havia sido vetado pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), e que tem colocado em lados opostos a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Em audiência realizada na Câmara dos Deputados na última quarta-feira (24), Marina e Silveira apresentaram suas divergências sobre o projeto da Petrobras. Silveira defendeu a posição da Petrobras, enquanto a ministra defendeu o parecer técnico do IBAMA, órgão vinculado à sua pasta.

O Ministério do Meio Ambiente defende que seja feita uma avaliação mais completa dos impactos dessa atividade em um local biodiverso e vulnerável como a bacia da Foz do Amazonas. Lembrando que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito sob a bandeira da proteção ao meio ambiente, dos povos originários e o desenvolvimento de projetos na área de energia verde.

O anúncio de reapresentação do pedido foi feito pelo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, em sua conta na rede social Twitter, ontem à noite (25) A Petrobras estima que área de exploração na região pode render 14 bilhões de barris de petróleo.

foz do amazonas

Reprodução: Jean Paul Prates – Twitter Oficial

“Conforme acordado na reunião de 3aF [terça-feira] sobre questões ambientais relativas à Margem Equatorial, reapresentamos há pouco pedido de retomada do processo de licenciamento da perfuração do poço Morpho 1-APS-57 no setor Amapá Águas Profundas da bacia sedimentar marítima denominada ‘Foz do Amazonas'”, escreveu o executivo.

Em uma série de tuítes em sua conta, Prates, que até então vinha adotando uma postura mais discreta sobre o tema, abordou a questão.

Em um deles, o presidente da estatal disse que a Petrobras vem conduzindo os estudos sobre o local com a “máxima diligência”. “Muitos questionam porque a Petrobras estaria ‘insistindo’ em obter licença para perfurar ali. E alguns mal-entendidos técnicos e argumentos distorcidos merecem esclarecimento, a esta altura. A começar pelo nome ‘Foz do Amazonas’, que só é assim em virtude do mapa das bacias sedimentares brasileiras, e abrange uma área bem mais ampla do nosso mar territorial e plataforma continental”, concluiu.

Em outro, ele diz que “a Petrobras já perfurou cerca de 700 poços em águas rasas na região da Margem Equatorial Brasileira, que compreende a porção marinha entre os estados do Rio Grande do Norte e do Amapá. Destes, cerca de 90 poços foram perfurados nas águas rasas na bacia da Foz do Amazonas. A experiência bem-sucedida e o conhecimento acumulado com essas perfurações e em sua ampla atuação na Bacia de Campos e no Pré-sal nas Bacias de Santos e Espírito Santo, habilitam a companhia a atuar em águas profundas nessa nova fronteira de acordo com os mais rigorosos padrões operacionais, técnicos e de segurança da indústria do petróleo”.

No mesmo tuíte, ele enfatizou que, “para atingir esse desafio com respeito e proteção ao meio ambiente, a Petrobras conta com o fato de ser empresa líder mundial no desenvolvimento de atividades de exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas, se diferenciando dos demais operadores que atuam em território nacional pelo fato de possuir mais de 60 anos de experiência na geologia do Brasil, que foram reconhecidos pelo recebimento do ‘Oscar’ da indústria do petróleo conferido pela OTC (Offshore Technology Conference) nos anos de 1992, 2001, 2015, 2019 e 2021”.

Diante da polêmica entre os ministérios, o presidente Lula deve arbitrar pessoalmente a questão.

Bacia da foz do Amazonas é considerada parte da solução para renovar reservas brasileiras

A região que a Petrobras pleiteia explorar é considerada pelo setor de petróleo como parte da solução para renovar as reservas brasileiras da commodity, especialmente quando começar o declínio da produção da camada de pré-sal, previsto para a próxima década.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo desta sexta-feira (26) mostra que a região já teve 95 poços petrolíferos perfurados, com apenas uma descoberta comercial de gás natural e alto índice de abandono por dificuldades operacionais, que o setor diz serem reflexos da tecnologia ultrapassada quando a região teve seu pico de exploração, nos anos 1970.

A propósito, as dificuldades logísticas foram um dos pontos determinantes para que o IBAMA vetasse o projeto da Petrobras. Pelas distâncias, a atividade petroleira na região demanda alto fluxo de embarcações e aeronaves e, em caso de emergência, o envio de socorro é um desafio.

Além disso, o Relatório de Impacto Ambiental do projeto identifica na área de influência do empreendimento espécies ameaçadas pela exploração, como o camarão rosa, o pito, a lagosta vermelha e o caranguejo-uçá e também comunidades ribeirinhas que vivem da pesca.

A área tem extensão de cerca de 350 mil km2, equivalente ao estado de Goiás, estendendo-se desde a baía de Marajó, no Pará, e a fronteira com a Guiana Francesa. O primeiro poço petrolífero foi perfurado em 1970, sem a descoberta de petróleo.

Do total de poços perfurados na região, 31 foram abandonados por dificuldades operacionais. Na última tentativa, em 2011, por exemplo, a Petrobras suspendeu a perfuração devido a fortes correntezas.

Ainda segundo a reportagem da Folha, a única descoberta na bacia foi feita em 1976, mas abandonada por dificuldades logísticas, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis). A bacia foi deixada de lado pela Petrobras nos anos 1980, depois da descoberta da bacia de Campos, no litoral do Rio de Janeiro.

No entanto, apesar das tentativas fracassadas, a atenção à bacia da foz do Amazonas foi retomada após descobertas gigantes de petróleo na Guiana e no Suriname, o que tornou mais promissora a margem equatorial brasileira.

Por exemplo, na Guiana, a americana ExxonMobil já aprovou seis plataformas de produção, que atingirão em 2027 a marca de 1,2 milhão de barris por dia, um pouco mais do que o campo de Tupi, o maior produtor de petróleo do Brasil.

Segundo a reportagem da Folha, um estudo de 2021 estima que uma das bacias da margem equatorial, a do Pará-Maranhão, tenha reservas de 20 bilhões a 30 bilhões de barris, metade do descoberto até hoje no pré-sal. Um dos autores do estudo, o geólogo Pedro Zalán, disse que o potencial da foz do Amazonas é equivalente.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e do site G1

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