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PIB cresce além do esperado, mas mídia destaca que mercado, que nunca está satisfeito, vê pressão inflacionária. Haddad explica

Mercado já está revisando crescimento do PIB para cima.
04/09/2024 | 12h07

Agentes do mercado financeiro começaram a revisar para cima as projeções de crescimento da economia brasileira este ano, depois que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou ontem (3) que o PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre avançou 1,4%, percentual maior que o previsto pelo mercado (+0,9%).

Porém, como até em notícia boa o mercado põe um “mas”, as projeções vêm com preocupações possíveis pressões inflacionárias e consequente aumento da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.

Sobre isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem, em entrevista a jornalistas, ao analisar o crescimento do PIB, que os investimentos podem garantir um crescimento com baixa inflação. “Temos que olhar muito para o investimento porque ele que vai garantir crescimento com baixa inflação. Se nós não aumentarmos a nossa capacidade instalada, vai chegar um momento que vamos ter dificuldade de crescer sem inflação”, disse, apontando que os investimentos apresentaram desempenho acima do esperado no último trimestre.

“Algumas indústrias ainda estão com muita margem para crescer a produção, mas isso não diz respeito à economia como um todo, tem setores que já estão inspirando atenção e os investimentos terão que acelerar para que não haja gargalo na oferta”, completou.

Entre os que estão revisando a projeção de alta do PIB deste ano está o Itaú Unibanco. O banco afirma que o resultado melhor é consequência direta da expansão dos gastos do setor público, do consumo persistente das famílias e de uma recuperação dos investimentos no país — ainda que a base de comparação com os últimos trimestres seja baixa.

“O aumento da renda [liderado por um mercado de trabalho resiliente], bem como o ciclo de crédito benigno e mercado de capitais aquecido vem contribuindo para o forte crescimento do PIB”, diz o banco em relatório divulgado ontem.

Os analistas do Itaú costumam demorar alguns dias para ajustar os cálculos e ainda projetam um crescimento de 2,5% para a economia brasileira em 2024. Mas já destacam que “há um viés de alta para nossa projeção de PIB do ano”.

Novas projeções apontam para crescimento do PIB para até 3,5% este ano, mas Selic pode subir

Novas projeções, no entanto, já vieram da G5 Partners, que revisou o percentual de 2,5% para 2,7% em 2024; e do banco BTG Pactual, que também aumentou suas estimativas de 2,4% para 2,7%. Neste último caso, a instituição reforçou que “ainda vemos riscos altistas caso os investimentos se mantenham resilientes ao aperto recente nas condições financeiras”.

O banco, no entanto, revisou suas estimativas para o PIB de 2025 para baixo, saindo de 1,8% para 1,7%, por conta do “aperto nas condições financeiras e ao menor impulso fiscal [gastos do governo que estimulem a economia] esperado para 2025”.

A ASA, por sua vez, partiu de uma projeção inicial de 2,5% para algo entre 3% e 3,5% em 2024. O PIB de 2025 ainda é projetado em 1,5%, mas com viés de alta.

A Genial Investimentos revisou, de maneira preliminar, a projeção de alta do PIB de 2,6% para 2,8%.

Por outro lado, analistas veem que a economia a passos fortes pode trazer pressões inflacionárias.

Ao site g1, a Guide Investimentos, que revisou de 2,2% para 2,9% o crescimento do Brasil neste ano, apontou que o resultado do último trimestre deve contribuir para que o Banco Central (BC) promova uma nova alta na taxa básica de juros.

A corretora enfatizou que, embora o número seja uma “foto do passado”, ele corrobora a visão de que o BC já deverá começar a elevar a Selic em setembro, mesmo que com uma alta de menor magnitude, de 0,25 ponto percentual.

Em julho, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou alta de 4,50% em 12 meses. Esse é o teto da meta estabelecida pelo BC, de 3,0% para 2024, que será considerada cumprida se estiver dentro do intervalo de 1,50% e 4,50%.

Juros elevados costumam reduzir a atividade econômica porque encarecem a tomada de crédito, como financiamentos e empréstimos, tornando o consumo das famílias e os investimentos das empresas mais custoso. Mesmo que o BC eleve os juros, porém, há um tempo de alguns meses para que a alta seja sentida na economia real, segundo especialistas.

Fazenda também deve revisar números

Ontem, Haddad disse que a equipe econômica deve elevar dos atuais 2,5% para algo entre 2,7% ou 2,8%, a projeção de crescimento do PIB deste ano.

Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que o dado pode ficar próximo a 3%. A Secretaria de Política Econômica (SPE) da Fazenda, por sua vez, vê um patamar próximo ao observado em 2023, quando a economia acelerou 2,9%.

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central se reúne em setembro para definir o novo patamar dos juros básicos, depois de ter incluído em seu cenário uma possível alta na Selic se necessário para levar a inflação à meta de 3%.

Em nota técnica, a SPE avaliou que o ritmo de crescimento do país deve seguir acentuado, mas apontou incerteza no cenário à frente, principalmente relacionada às decisões de política monetária do BC, “que podem prejudicar a recuperação do mercado de crédito”.

A SPE aposta que a aceleração da atividade será guiada pelo mercado de trabalho aquecido e as melhores condições de crédito na comparação com 2023.

“A expansão esperada para setores mais cíclicos e para a absorção doméstica devem direcionar o crescimento, sendo parcialmente contrabalanceadas por expectativas de recuo da atividade agropecuária, desaceleração da produção extrativa e pela menor contribuição do setor externo”, apontou a secretaria.

A pasta ressaltou que os impactos negativos das chuvas no Rio Grande do Sul na atividade foram parcialmente mitigados pelas políticas de apoio às famílias, empresas e governos municipais e estadual, como esperado.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do g1

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