Por Victoria Azevedo e Catia Seabra
(Folhapress) — O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou nesta quarta-feira (23) que o partido poderá romper com o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), caso ele não leve à votação no plenário o requerimento de urgência do projeto que dá anistia aos réus dos ataques golpistas do dia 8 de janeiro.
O PL é a maior bancada da Câmara, com 92 deputados. No último dia 14, Sóstenes protocolou no sistema da Casa o requerimento de urgência do projeto, num momento em que o governo federal negociava com aliados a retirada de suas assinaturas na proposta.
Com isso, o tema não precisa ser analisado nas comissões temáticas da Câmara e segue direto para o plenário. Cabe ao presidente da Casa, no entanto, pautar a votação desse requerimento. Caso ele seja aprovado, os deputados ainda precisarão deliberar sobre o conteúdo da proposta.

Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara dos Deputados. (Foto: Lula Marques / Agência Brasil)
O projeto da anistia deverá ser discutido em reunião com demais líderes partidários nesta quinta-feira (24).
Segundo um integrante do centrão, há uma avaliação de que um projeto complexo como o da anistia não deve ser levado ao plenário sem ser discutido amplamente pelos congressistas.
Relação com Motta
Sóstenes disse ter conversado mais cedo nesta quarta com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, sobre a necessidade de “estabelecer um limite” na relação com Motta.
“Estamos estabelecendo um limite que é: insere ou não a urgência na pauta amanhã. Se ele não inserir, isso vai significar que ele está rompendo com a gente. Isso não pode ficar ‘ad eternum'”, disse.
O líder do PL também afirmou que esse eventual rompimento com o presidente da Câmara pode impactar a divisão do valor das emendas de comissão na Casa -recursos propostos pelas comissões permanentes da Câmara e do Senado, além das comissões mistas do Congresso Nacional.
Segundo ele, há um acordo firmado com Motta e demais líderes partidários que prevê a divisão desses recursos seguindo esta proporção: 30% do valor total que uma comissão tem direito fica com o partido que tem o comando do colegiado, enquanto os demais 70% são distribuídos por Motta às demais legendas.

O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, conseguiu assinaturas suficientes para protocolar um pedido de tramitação rápida do projeto de lei que anistia envolvidos no golpe de 8 de janeiro. (Foto: Gabriela Biló/ Folhapress)
Na Câmara, o PL tem o comando das comissões de Saúde, Turismo, Agricultura, Relações Exteriores e Segurança Pública. A de Saúde liderou a verba de emendas de comissão no último ano.
“Se Hugo Motta romper conosco, eu não preciso respeitar isso. Se for necessário colocar a corda no pescoço como o STF e o governo fazem com ele, o rompimento até nisso pode afetar. Mas não queremos isso, porque somos cumpridores de acordo. E ele precisa cumprir o dele”, disse Sóstenes.
O deputado federal falou com jornalistas em evento que marcou o lançamento do livro “A Inconstitucionalidade de Leis Brasileiras: entre Causas e Efeitos”, do presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), em Brasília.
Estiveram no evento ministros do governo Lula, como o chefe da Saúde, Alexandre Padilha (PT), e do Trabalho, Luiz Marinho (PT), além do presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, e dos presidentes do PP, Ciro Nogueira, do União Brasil, Antonio Rueda, e do PSD, Gilberto Kassab.
Hugo Motta também compareceu, assim como o seu antecessor na chefia da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
Relacionados
Lula diz a deputados que é ‘candidatíssimo’ em 2026 e faz balanço do mandato
Presidente participa de jantar com Hugo Motta, Davi Alcolumbre e líderes da Câmara
Lula entrega PEC da Segurança Pública para tramitação no Congresso
Segundo o presidente, a PEC não interfere na autonomia dos estados e municípios no tratamento da segurança
Hugo Motta não levará PL da anistia para reunião de líderes desta semana, afirma líder governista
Decisão sinaliza um movimento de afastamento da nova presidência da Câmara em relação à base bolsonarista