O pagamento do Bolsa Família (antigo Auxílio Brasil) no valor de R$ 600 em 2022 e a queda no desemprego contribuíram para a melhora no rendimento e no nível de desigualdade do país. É o que mostra a “Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios] Contínua: Rendimento de todas as fontes 2022”, divulgada hoje (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Por outro lado, o levantamento também mostra que ainda permanece alta a concentração de renda entre os ricos.
O nível de desigualdade, segundo a pesquisa, chegou ao menor patamar em uma década, apesar de ainda ser uma das mais altas do mundo. Esse efeito ocorreu devido à melhora no rendimento médio mensal domiciliar per capita, que foi de R$ 1.586 em 2022, aumento de 6,9% frente a 2021, quando havia atingido o menor valor da série histórica (R$ 1.484), após dois anos de quedas durante a pandemia de Covid-19.
Segundo o IBGE, esse cenário gerou impactos no índice de Gini, que mede a desigualdade. Após crescer em 2021 (0,544), o indicador do rendimento médio mensal domiciliar per capita caiu em 2022, atingindo a marca de 0,518. Quanto maior o Gini, maior a desigualdade.
“Essa redução da desigualdade é reflexo de um mercado de trabalho menos desigual. Além disso, teve o pagamento do programa do Auxílio Brasil, em substituição ao programa Bolsa Família, com valor de R$ 600. Tudo isso contribuiu”, explicou Alessandra Brito, analista do IBGE.
Entre as regiões, o Nordeste manteve o maior índice de Gini em 2022 (0,517) e a região Sul, o menor (0,458). Entre 2021 e 2022, a desigualdade medida pelo Gini diminuiu em todas as regiões, sobretudo no Nordeste (de 0,556 para 0,517) e Sudeste (0,533 para 0,505). Nesta última região e também no Centro-Oeste (0,493), os respectivos índices de Gini chegaram aos menores valores da série histórica.
Por sua vez, o Gini do rendimento médio mensal de todos os trabalhos caiu de 0,499 para 0,486, atingindo seus menores valores, na média do país e em quase todas as regiões.
A analista da pesquisa do IBGE, Alessandra Brito, disse que “a entrada de quase 8 milhões de pessoas na população ocupada puxou a média de rendimento para baixo, mas aparentemente essas pessoas ingressaram no mercado de trabalho recebendo vencimentos com valores similares, o que resultou numa distribuição menos desigual. Além disso, o rendimento médio dos trabalhadores sem carteira e por conta própria aumentou no período, também contribuindo para essa queda no índice de desigualdade”.
Contudo, a desigualdade no país continua sendo um desafio, ainda se mantendo em patamares elevados. Em 2022, a renda do 1% mais rico era 32,5 vezes (R$ 17.447) o rendimento médio dos 50% que ganham menos (R$ 537). Em 2021, essa razão foi de 38,4 vezes.
Massa do rendimento médio mensal domiciliar cresceu 7,7% no ano passado, aponta Pnad Contínua
Em 2022, 134,1 milhões de brasileiros receberam algum rendimento (seja do trabalho, programas de transferências de renda, rentabilidade ou aposentadoria), o equivalente a 62% da população, recorde da série iniciada em 2012. Em 2021, esse percentual era de 59,8%.
Em 2022, segundo o IBGE, a massa do rendimento mensal real domiciliar per capita subiu 7,7% ante 2021, chegando a R$ 339,6 bilhões em 2022.
A região Nordeste segue com menor rendimento médio mensal domiciliar per capita (R $1.011), enquanto a Sul segue com o maior (R$ 1.927).
O rendimento médio mensal real da população residente com rendimento de todas as fontes foi de R$ 2.533, 2,0% maior que em 2021 e 2,6% menor que no início da série, em 2012. O de todos os trabalhos ficou em R$ 2.659, caindo 2,1%.
Por sua vez, o de outras fontes cresceu 12,1%, alcançando R$ 1.657 em 2022, com o item aposentadoria e pensão mantendo-se com a maior média em 2022 (R$ 2.161) e destaque para o item outros rendimentos, subindo de R$ 562 para R$ 814 (alta de 44,8%), alcançando o maior valor da série.
Já o rendimento médio mensal da categoria Aluguel e arrendamento caiu de R$ 1.989 em 2021 para R$ 1.755 em 2022, menor valor da série. Esse movimento foi acompanhado pelas regiões Nordeste, Sul e Sudeste, a última apresentando a maior queda, de R$ 2.261 para R$ 1.815.
Segundo a analista do IBGE, foi a primeira vez que essa categoria ficou abaixo dos R$ 2 mil na região Sudeste, em uma grande queda. “Uma possível explicação pode ser a inflação. Conseguimos perceber esse movimento também em outras categorias. Alguns itens não são reajustados de acordo com a inflação, o que causa essa corrosão”, disse.
Redação ICL Economia
Com informações da Agência de Notícias do IBGE
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