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Por Brasil de Fato

Policiais do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) do Rio de Janeiro passarão a usar câmeras em seus uniformes a partir desta segunda-feira (8). A informação foi confirmada pelo próprio batalhão.

De acordo com o secretário de Polícia Militar (PM) fluminense, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, até o fim de junho, todas as unidades da corporação incorporarão os equipamentos de vídeo às fardas. A ideia é que 90% dos policiais militares usem câmera.

“Nós vamos cumprir o cronograma informado ao STF [Supremo Tribunal Federal]”, afirmou Pires, lembrando que o ministro da Suprema Corte Edson Fachin determinou que as forças policiais do estado do Rio adotassem as câmeras.

Em julho, o governo do Rio publicou um decreto obrigando os agentes das forças especiais das polícias Civil e Militar a usarem os equipamentos.

De acordo com reportagem da CNN Brasil, até o momento já foram implantadas 11.249 câmeras e outras 1.660 estão em fase de implantação. Ao todo, 13 mil câmeras foram adquiridas. Os dados são da PM.

VIOLÊNCIA POLICIAL

As polícias do estado do Rio de Janeiro mataram 1.327 pessoas no ano de 2022. Isso significa que 29,7% de todas as mortes violentas registradas no estado são de responsabilidade das forças de segurança. Os dados foram divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) no último dia 19.

Em artigo, a cientista social Silvia Ramos, que é coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança, lembrou que os altos índices de letalidade provocada por agentes de segurança em supostas operações policiais vêm se repetindo ano após ano no governo de Cláudio Castro (PL), mas que o número atual não deixa de ser “estarrecedor”.

“Algumas vezes essas ações têm muita visibilidade, quando ocorrem vários mortos em uma única operação (chacinas policiais), quando ocorrem em favelas conhecidas com presença de grupos de ativistas locais ou quando morrem crianças ou mulheres. Podemos contar talvez dez, vinte, trinta, quarenta episódios assim num ano. Mas se juntarmos todos os registros que lemos na mídia profissional e redes sociais, chegaremos em média a 300 mortes. E as outras mortes que somam 1.327?”, questiona Ramos.

Ainda segundo a socióloga, a maioria das mortes decorrentes de ação policial ocorre silenciosamente, em bairros com pouco capital social, sem grupos locais com capacidade de vocalização, sem a presença de mães heroicas que trocam suas vidas pela luta por justiça.

“Existe um varejo da letalidade policial em bairros distantes do olhar da sociedade e do controle, onde agentes sabem previamente que aquele homicídio ‘não vai dar em nada’. São execuções extrajudiciais, acertos relacionados à corrupção, vinganças, negligências e acidentes. Quando somamos tudo dá mais de 1.300. Mortes inúteis, fúteis, preveníveis”, afirma.

A coordenadora da Rede de Observatórios chama atenção também para o fato de que 87,3% dos mortos pela polícia no Rio de Janeiro em 2021 eram negros.

Segundo o ISP, estas são as áreas integradas em que a polícia matou mais de 50 pessoas em 2022: Seropédica, Itaguaí e Queimados (139 pessoas); São Gonçalo (131); Duque de Caxias (129); Vigário Geral, Parada de Lucas e Penha (92); Acari, Costa Barros e Vicente de Carvalho (84 pessoas); Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis (81); Niterói (79); Bangu (63); Mangaratiba, Angra e Paraty (60); Belford Roxo (58) e São João de Meriti (54).

“Qualquer governo preocupado com a segurança já teria providenciado estudos e levantamentos nos registros para compreender as mudanças nos fenômenos. Mas no Rio de Janeiro não existe uma secretaria de segurança. As polícias individualmente não têm qualquer interesse no tema”, critica Ramos, apontando ainda omissão do Ministério Público do Rio de Janeiro.

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