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Políticos que desencorajam vacinação podem ser cúmplices de uma tragédia

Pregar contra a vacinação é pregar a morte e o sofrimento, ignorando a importância da ciência e da responsabilidade social
14/02/2024 | 09h16

Por Gustavo Cabral *

A história da humanidade é repleta de desafios e adversidades, muitos dos quais foram causados por doenças infecciosas que assolaram diferentes períodos e deixaram profundas marcas nas sociedades. Desde a varíola até a Covid-19, estas doenças impulsionaram transformações e o desenvolvimento científico para combatê-las.

No Brasil, a varíola foi uma das enfermidades que causaram epidemias ao longo dos séculos, afetando tanto indígenas como outras populações do continente americano. Porém, a história também nos mostra a importância da vacinação no combate e controle dessas doenças infecciosas. Uma das maiores conquistas da medicina foi a erradicação da varíola em 1980, graças às vacinas.

Além da varíola, a vacinação desempenhou um papel fundamental na erradicação da poliomielite (paralisia infantil) no Brasil. E ainda hoje, diversas doenças preveníveis por vacinação, como Coqueluche, Covid-19, Difteria, Febre amarela, Hepatite, etc. continuam a ser controladas e prevenidas graças à imunização.

Entretanto, a eficácia da vacinação vai além da proteção individual, ela também protege a sociedade como um todo. A não vacinação coloca em risco não apenas a vida da pessoa que opta por não se vacinar, mas também a vida de outras pessoas ao seu redor. Não se trata apenas de um direito individual, mas sim de uma responsabilidade social.

A pandemia da Covid-19 exemplifica claramente os perigos de uma doença infecciosa quando não temos vacinas em larga escala e uma população devidamente imunizada. No Brasil, mais de 700 mil mortes foram registradas devido à Covid-19, deixando um rastro de sofrimento e devastação em famílias e comunidades.

A não vacinação não é apenas uma escolha individual, mas um ato que pode ter consequências devastadoras para a população. Pregar contra a vacinação é pregar a morte e o sofrimento, ignorando a importância da ciência e da responsabilidade social.

É fundamental que tanto pessoas físicas quanto jurídicas compreendam a importância da vacinação e não contribuam para disseminar informações falsas ou desencorajar a imunização. Governantes e instituições têm um papel crucial em promover a vacinação e proteger a sociedade contra doenças infecciosas. Por isso, é muito perigoso ver alguém na posição de governador, assim como o Romeu Zema, de Minas Gerais, dizer que os alunos poderão frequentar as escolas do estado sem a vacinação em dia. Isso pode gerar um dano terrível, pois o que deveria acontecer é o estímulo à vacinação, não o oposto, como fez o governador.

E, infelizmente, isso não é restrito apenas a esse político, pois diversos outros têm seguido nessa mesma linha. Esse posicionamento vai contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que, do ponto de vista jurídico, embasado no §1º do artigo 14 do ECA, estabelece a obrigatoriedade da vacinação das crianças nas circunstâncias recomendadas pelas autoridades sanitárias, como as vacinas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), entre elas a vacina contra a Covid-19.

Agências como a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), assim como a Organização Mundial de Saúde (OMS) atestaram a segurança e a eficácia dessas vacinas. Além disso, a vacinação infantil não só protege contra complicações da Cvoid-19, mas também tem impactos positivos na educação, permitindo que as crianças permaneçam na escola com segurança.

O mesmo se aplica para todas a vacinas disponíveis. É fundamental considerar que a vacinação infantil não apenas protege as crianças vacinadas, mas também reduz a transmissão dos agentes causadores das doenças, protegendo também aqueles que ainda não foram vacinados.

Em resumo, a história da humanidade nos ensina que a vacinação é uma das maiores ferramentas que temos para prevenir doenças infecciosas e proteger a todos. É dever da comunidade colaborar para garantir que as vacinas sejam acessíveis e que a população esteja devidamente imunizada, contribuindo assim para um mundo mais saudável e seguro para todos.

 

 

*Imunologista PhD e Coordenador de Pesquisa no ICB-IV da USP, para o desenvolvimento tecnológico de vacinas aplicadas contra Covid-19, Chikungunya, Zika e Dengue vírus.

 

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