Prefeitura de Porto Alegre não fez cadastro para auxílio

Por Bettina Gehm — Sul21

Desde esta segunda-feira (27), quem se cadastrou para receber o Auxílio Reconstrução pode confirmar no site do programa as informações enviadas pela Prefeitura ao Governo Federal.

No entanto, quando moradores de Porto Alegre tentaram fazer o procedimento, receberam a seguinte mensagem: “CPF não cadastrado pela prefeitura. A prefeitura da cidade onde você mora não cadastrou sua família. Solicite o cadastro”.

A gestão da Capital criou, na semana passada, o Registro Unificado, uma plataforma online na qual os cidadãos podem se cadastrar, com a “finalidade de identificar o público atingido e qualificar dados para encaminhar à elegibilidade em programas sociais dos três níveis do poder executivo”.

Mais de 39 mil famílias já estão na base de dados, e é de responsabilidade da Prefeitura enviá-los ao Governo Federal para que os atingidos recebam o auxílio no valor de R$ 5,1 mil.

A depiladora Solange da Silva Duarte, que mora na rua Washington Luís, teve a casa alagada e perdeu vários móveis. “Um roupeiro, um fogão, alguns itens de cama e umas roupas, cobertor, um box de casal”, enumera. “Meu aluguel está vencendo e preciso pagá-lo mesmo tendo ficado fora de casa uns 15 dias”, explica.

Por isso, Solange preencheu o Registro Unificado na esperança de receber o auxílio, mas se deparou com o CPF não cadastrado pela Prefeitura.

Ela trabalha no salão de beleza da filha, que também não conseguiu acesso ao benefício do governo para reconstruir o estabelecimento onde a água estragou tudo.

Uma moradora do bairro Cidade Baixa, que não quis se identificar, passa pelo mesmo problema. “Fiz o meu cadastro na tarde de sábado, e na tarde de hoje fui ver que meu CPF consta como não cadastrado. É complicado, pois o Governo Federal liberou esse valor, nós fazemos a nossa parte e a Prefeitura simplesmente não envia os dados”.

Ela afirma que tentou entrar em contato com a Prefeitura pelo telefone 156, mas que a ligação cai depois de um tempo na fila. “Devido aos picos de energia, perdi a geladeira, máquina de lavar e secar e computadores. Quando vi esse anúncio do governo tive uma esperança, mas agora que vi que a Prefeitura não fez a parte dela não tenho onde questionar”, lamenta.

À GZH, o Ministério Extraordinário da Reconstrução disse que a Capital não submeteu dados de famílias aptas a receber o benefício até a tarde desta segunda.

Já o secretário interino de Desenvolvimento Social de Porto Alegre, Jorge Brasil, informou que as equipes da pasta estão “trabalhando na normatização dos dados colhidos junto à população antes de submetê-los ao governo federal”.

A estimativa da Prefeitura é de que a primeira relação seja enviada entre esta segunda e terça-feira (28), com cerca de 20 mil beneficiários.

Foto: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

Ex-prefeitos de Porto Alegre criticam o atual

Os ex-prefeitos de Porto Alegre, Alceu Collares, Olívio Dutra, Raul Pont, Tarso Genro e José Fortunati divulgaram uma nota conjunta manifestando solidariedade às famílias atingidas pela enchente em Porto Alegre e criticando o que chamam de “desorganização técnica e institucional” dos serviços prestados pela atual gestão na Prefeitura.

A nota também critica “a indiferença demonstrada pelo Prefeito atual” em relação aos alertas feitos por integrantes do corpo técnico do Departamento Municipal de Águas e Esgotos (DMAE) sobre a possibilidade de ocorrência da catástrofe que acabou se materializando.

Confira abaixo a íntegra da nota assinada pelos ex-prefeitos:

“Nós, ex-Prefeitos da capital do Rio Grande, queremos manifestar a nossa integral solidariedade a todas as famílias atingidas — direta ou indiretamente — pela catástrofe climática que abala Porto Alegre, situação dramática que foi agravada pela falta de reparos e de manutenção dos aparatos de proteção da cidade e pela desorganização técnica e institucional dos seus serviços. Através da presente declaração igualmente manifestamos o nosso integral apoio aos engenheiros, ambientalistas, técnicos, acadêmicos e demais peritos, que firmaram uma Carta Pública à cidade e ao Estado, mostrando claramente os efeitos do descaso da atual administração com a manutenção das Casas de Bombas e do Sistema de Proteção às Cheias, integrado pelo Muro da Mauá e pelos Diques de Contenção. Compartilhamos, também, com os referidos firmatários da Carta, da sua crítica à indiferença demonstrada pelo Prefeito atual, em relação aos alertas do competente corpo técnico do DMAE, que registrou claramente a possibilidade de ocorrência da catástrofe. Manifestamos finalmente a nossa indignação com as respostas públicas oferecidas à imprensa, pela Administração da Capital, tentando diluir suas responsabilidades pelo agravamento da tragédia.

Alceu Collares, Olívio Dutra, Raul Pont, Tarso Genro, José Fortunati.”