ICL Notícias

Por Heloisa Villela

Entre os primeiros dias da enchente em Porto Alegre e a chuva forte que voltou nesta quinta-feira (23), a Prefeitura poderia, e deveria, ter adotado medidas para impedir que a água novamente tomasse conta de bairros da cidade.

Essa é a conclusão de engenheiros do Rio Grande do Sul que elaboraram uma lista das medidas a serem adotadas e apresentaram na sexta-feira (17) o documento ao prefeito Sebastião Melo e ao Ministério Público. Porém, nenhuma das medidas recomendadas foi adotada antes da segunda chuva forte que causou novas inundações.

Nanci Giugno-Senge, membro do conselho técnico consultivo do Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul, disse ao ICL Notícias que seria possível reduzir bastante o tamanho do problema que voltou a afetar Porto Alegre.

Mergulhadores especializados deveriam ter sido despachados para consertar os problemas dos diques de contenção do Muro da Mauá e também da comporta da casa de bombas que não funcionou e permitiu que o local fosse inundado.

Ela explicou que é comum fazer esse tipo de trabalho, com mergulhadores, em sistemas de saneamento. Mas no caso de Porto Alegre, isso não aconteceu.

Os diques do Muro da Mauá, na orla do Rio Guaíba, apresentavam pontos de ferrugem, borrachas estragadas e buracos que se fossem vedados impediriam a água de entrar novamente na cidade. Ou, ao menos, reduziriam muito o volume da invasão. Esse trabalho, diz ela, poderia ter sido feito mesmo durante a enchente. E não foi.

Na casa de bombas, uma comporta que funciona como um basculante não funcionou. Ela não vedou a entrada da água. E também deveria ter sido consertada.

Depois dos reparos necessários, a água lá dentro seria jogada para fora e as bombas que não estão danificadas poderiam voltar a funcionar retirando a água de dentro da cidade. Esse trabalho poderia ser feito por mergulhadores que, no passado, faziam parte da equipe da prefeitura.

Nanci também criticou a ausência de um sistema de alerta, o que deixou os moradores, novamente, sem informações. “O sistema todo falhou”, disse John Wurding, engenheiro ambiental com mestrado em Planejamento Urbano e Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Está difícil para a Prefeitura assumir que existe um colapso geral, ela blinda a real situação”, disse John.

Volta a chover forte em Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

Porto Alegre teve alerta atrasado

A Defesa Civil da capital gaúcha divulgou um alerta atrasado, aconselhando a população a monitorar o risco de alagamentos nos bairros que já tinham sido afetados pela enchente no começo do mês. Quando o alerta foi divulgado, a água já estava dentro das casas de bairros como Cidade Baixa e Menino Deus.

John Wurding disse que acompanha os dados divulgados pelo INMET, o Instituto Nacional de Meteorologia, e viu que no começo da tarde a região de Cachoeira do Sul já havia registrado 250 mm de chuva. Se choveu tanto assim por lá, é certo que o nível do Guaíba, na região de Porto Alegre, subiria.

Wurding, também criticou a ausência de um sistema de alerta. Pessoas que já estavam voltando para suas casas foram obrigadas a fugir novamente, sem aviso prévio.

A previsão de chuva forte já estava disponível, mas não chegou aos moradores. E pior: segundo o engenheiro, Porto Alegre nem sabe exatamente o que está acontecendo porque instalou uma régua de medição que apresenta resultados diferentes da régua antiga, com uma defasagem de 30 a 40 centímetros.

Moradora do bairro Menino Deus, Paula Moletta e o namorado já tinham limpado toda a casa dele quando a chuva recomeçou. “Saímos de lá agora com a água pela cintura”, contou.

A casa foi alagada novamente. “Muitos vizinhos já tinham mobiliado as casas, reformado portões. Agora, vão ter que fazer tudo outra vez. Já chorei, já tentei rir e fazer piada, já pirei”, disse Paula, mas ela está jogando toda a energia no trabalho de recuperação da cidade, em bases mais humanas.

Paula é engenheira sanitária ambiental. “Estou botando em prática muito do que aprendi”, contou. Focada no trabalho de limpeza, ela está ajudando a montar uma grande rede de faxina, com voluntários treinados para ouvir quem perdeu tudo e ajudar os moradores a separar o que é possível aproveitar, evitando a produção de toneladas e toneladas de lixo. “Sustentabilidade não é mais a resposta. Precisamos reduzir a 10% o que geramos de coleta coletiva hoje”, afirmou.

 

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