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Pesquisa mostra presença de metais tóxicos no ar de cidades atingidas por crime da Vale

Estudo analisou seis municípios: Betim, Mário Campos, Juatuba, São Joaquim de Bicas, Igarapé e Mateus Leme
17/12/2024 | 05h00

Por Brasil de Fato

Uma pesquisa realizada a pedido da Aedas, assessoria técnica independente (ATI) que atende as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), revelou a presença de metais tóxicos no ar em seis municípios impactados.

O estudo, conduzido pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), analisou o ar em Betim, Mário Campos, Juatuba, São Joaquim de Bicas, Igarapé e Mateus Leme, que apresentaram níveis elevados de arsênio, cádmio, cromo, manganês, mercúrio e níquel, ultrapassando os valores de referência para qualidade estabelecidos por resoluções ambientais internacionais.

Ria Paraopeba foi contaminado pela lama da Vale após rompimento da barragem (Foto: Foto: Nilmar Lage/MAB)

Alta incidência de contaminação por metais

Para a análise, foram coletadas 28 amostras na região de estudo, com destaque para os percentuais de violações dos valores de referência dos parâmetros analisados. O manganês, por exemplo, apresentou inconformidade em 26 das 28 amostras, correspondendo a 93% das coletas acima do valor de referência estabelecido.

O mercúrio registrou inconformidade em 11 amostras, ou seja, 39% das coletas. O arsênio apresentou inconformidade em 10 amostras, representando 36% das coletas acima do valor de referência.

O mesmo percentual, 36%, foi observado para o cromo, com 10 amostras inconformes. O cádmio apresentou inconformidade em nove amostras, correspondendo a 32% das coletas, assim como o níquel, que também registrou inconformidade em nove amostras, ou 32% das coletas acima do valor de referência estabelecido.

De acordo com a técnica da Aedas, Mariana Vieira, o estudo representa uma “fotografia” do período analisado e reforça a necessidade de um monitoramento contínuo. Ela destaca ainda que o Brasil carece de uma regulamentação ambiental específica que determine limites máximos aceitáveis para concentração de metais no ar, tornando o uso de parâmetros internacionais imprescindíveis.

“Essas lacunas dificultam a avaliação das contaminações e dos riscos à saúde das populações atingidas”, explica.

Saúde e meio ambiente

Embora a presença de metais no ar não signifique, necessariamente, intoxicação, Vieira alerta que as pessoas da região estão expostas a essas substâncias, cujos efeitos dependem de fatores como dose e forma de contato. Entre os metais detectados, vários são conhecidos por causar sérios problemas à saúde humana.

“Para além do potencial risco à saúde, esses metais podem ser transportados pela atmosfera e se acumularem no solo e nas águas superficiais por meio das chuvas ou deposição seca. No solo, os metais podem escoar para os rios ou serem absorvidos pelas plantas, o que compromete a saúde de quem ingere”, explica Mariana Vieira.

A avaliação dos técnicos reforça que os resultados são fundamentais para identificar os impactos persistentes e subsidiar ações de mitigação e políticas públicas.

As coletas foram realizadas entre setembro de 2021 e agosto de 2022. O estudo foi feito a pedido das comunidades atingidas dos municípios para a Aedas e os resultados foram apresentados em reuniões comunitárias e em seminário realizado em outubro deste ano.

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