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Processo que teria revertido a extinção do lobo-terrível é questionado por cientistas

Especialistas acreditam ainda ser cedo para classificar os anúncios como conquistas na missão de trazer à vida animais extintos
09/04/2025 | 11h56
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A Colossal Biosciences, empresa conhecida pela meta de ressuscitar espécies extintas, anunciou na segunda-feira (7) que teria revertido a extinção de lobos-terríveis, espécie extinta há mais de 10 mil anos. A empresa divulgou as imagens de três filhotes, que teriam sido gerados por meio da edição genética de lobos-cinzentos modernos com DNA obtido em fósseis antigos.

A divulgação, porém, é alvo de questionamentos de especialistas, que acreditam ainda ser cedo para classificar os anúncios como conquistas na missão de trazer à vida animais extintos. Um dos pontos de desconfiança é o fato de os comunicados que descrevem os feitos não terem sido publicados em revistas científicas nem revisado por cientistas independentes.

Os três filhotes, geneticamente recriados a partir de DNA antigo extraído de fósseis, foram batizados de Rômulo, Remo e Khaleesi. Os dois primeiros nasceram em 1º de outubro de 2024, enquanto Khaleesi chegou em 31 de janeiro de 2025, segundo a Colossal Biosciences. Rômulo e Remo estão com cinco meses e vivem em um centro de preservação da vida selvagem nos Estados Unidos.

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Da esquerda para direita: Rômulo, Khaleesi e Remus (Foto: Colossal Biosciences)

Cientistas questionam reversão da extinção do lobo-terrível

Em entrevista à agência Reuters, Corey Bradshaw, professor de Ecologia Global da Universidade Flinders, na Austrália, afirmou que o animal apresentado pela empresa não pode ser classificado como um lobo-terrível verdadeiro, mas apenas um lobo-cinzento levemente modificado.

“Essas modificações parecem ter sido derivadas do material genético recuperado do lobo terrível. Isso faz deles lobos terríveis? Não. Faz deles lobos-cinzentos ligeiramente modificados? Sim”, disse Bradshaw.

A revista Time publicou uma reportagem que afirma que a descoberta não envolveu a recriação integral do DNA do lobo terrível (Aenocyon dirus), mas sim a edição genética do material de espécies modernas.

Teriam sido alterados cerca de 20 regiões do genoma para obter as características da espécie extinta (tamanho, ombros e cabeça, dentes e mandíbulas maiores, pernas mais musculosas e vocalização característica).

“Quando se fazem grandes afirmações e não se fornecem evidências associadas, especialmente em algo tão controverso, isso é uma bandeira vermelha gigantesca. Na melhor das hipóteses, exageraram; na pior, estão mentindo descaradamente”, comenta o professor Corey Bradshaw.

Segundo Bradshaw, a degradação natural do DNA em fósseis impossibilita atualmente reconstruir completamente o genoma de animais extintos há milhares de anos, o que limita as possibilidades reais da chamada “desextinção”.

O paleogeneticista Nic Rawlence, da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, classifica os animais como um “híbrido” entre as duas espécies de lobo. “O lobo-terrível está em um gênero completamente diferente dos lobos cinzentos”, argumenta o especialista em entrevista à BBC.

“De cerca de 19 mil genes, eles [a Colossal Biosciences] determinaram que 20 mudanças em 14 genes deram a eles um lobo-terrível”, critica ele.

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Um dos lobos geneticamente modificados que nasceu em outubro de 2024 (Foto: Colossal Biosciences)

Lobo-terrível

O lobo-terrível é uma espécie nativa da América do Norte que coexistiu com os primeiros humanos e desapareceu há cerca de 10 mil anos. O animal é visualmente semelhante ao lobo-cinzento e ao chacal, mas possuía uma linhagem genética distinta. Os registros mais antigos da espécie remontam a 250 mil anos atrás.

A Colossal divulgou que utilizou a tecnologia Crispr, conhecida como “tesoura genética”, que permite a edição precisa de trechos do DNA. A partir do genoma completo reconstruído com material genético datado de 11,5 mil a 72 mil anos, a equipe conseguiu realizar as modificações necessárias para criar células compatíveis com a espécie extinta.

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