Por Gabriel Gomes*
O projeto NegroMuro inaugura nesta sexta-feira (7), mais dois murais artísticos para homenagear e preservar a memória de grandes figuras negras que contribuíram para o Brasil. Os murais foram feitos na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), da Fiocruz, em Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro.
Nesses murais, são retratadas parte da história de vida do patrono da Escola, Joaquim Venâncio, e outros técnicos negros da FioCruz. O produtor e pesquisador Pedro Rajão e o produtor e artista Fernando Cazé, ambos do NegroMuro, se baseiam na pesquisa da professora Renata Reis, da EPSJV/Fiocruz, Renata Reis, que deu origem à exposição “Manguinhos de Muitas Memórias: histórias dos trabalhadores técnicos da Fiocruz”.
Joaquim Venâncio
O cientista mineiro Joaquim Venâncio Fernandes, que dá nome à Escola Politécnica da FioCruz, passou a ter o rosto exposto na lateral de alguns dos prédios da unidade. Joaquim iniciou sua carreira na fundação como servente, até se tornar auxiliar de laboratório.
Ele participou ativamente de várias pesquisas, tanto executando atividades dentro do laboratório quanto coletas em campo.
Joaquim possuía um conhecimento vasto sobre répteis, anfíbios, da terra, do uso de plantas e ervas. Conviveu com cientistas como Adolpho Lutz e Bertha Lutz e foi chamado de “guru” por muitos pesquisadores.
“Um cara fantástico, mas que pelo racismo brasileiro que é brutal, sempre foi apagado. Apesar de dar nome a escola politécnica, eu diria que a maioria das pessoas que passam por lá não sabem que ele era um homem negro retintino”, relata Pedro Rajão, pesquisador e produtor do NegroMuro.
A homenagem a Joaquim Venâncio e aos técnicos negros da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), para Rajão, gera um sentimento de pertencimento para outros cientistas.
“Estampar um sorriso negro bem grandão lá gera um orgulho para os próprios funcionários negros da Fiocruz, e não-negros também. Isso contribui muito para um sentimento de pertencimento quando você vê um igual em um lugar de reconhecimento, de destaque, de vanguarda e principalmente, para chamar atenção da importância dos negros para a ciência do Brasil”, disse Pedro Rajão.
Os murais feitos na Escola Politécnica são um dos primeiros do projeto NegroMuro a prestar homenagens a personalidades negras do campo da ciência.
“A gente lida muito com personalidades do samba, até por conta do território e poucos personagens das ciências e da saúde acabam sendo lembrados, no geral, não só no Negro Muro. É muito importante, também, estar reafirmando esse lugar do negro dentro das ciências, não apenas no campo das artes e dos esportes, que também é uma concepção racista de esperar que o negro seja bom apenas nessas áreas. Temos grandes engenheiros, grandes cientistas…”, afirma Rajão.
“A nossa intenção é realmente, muitas vezes, mostrar o óbvio, mas é o óbvio que não é visto porque a gente ainda vive em um projeto racista institucional. Se a gente puder ser uma forma de combater esse apagamento e mostrar o negro brilhando em todas as áreas, será perfeito”, completa.
Ver essa foto no Instagram
Outras homenagens do projeto NegroMuro
O mural inaugurado nesta sexta-feira é o 58º do projeto NegroMuro, que já homenageou diversas outras personalidades negras com destaque em diversos setores da sociedades pelos muros do Rio de Janeiro.
Uma das homenagens recentes feitas pelo projeto foi intitulada de “Academia Negra de Filosofia”. O grupo homenageou, em local próxima a Academia Brasileira de Filosofia, 10 filósofos negros brasileiros em plena atividade acadêmica e política, que são raramente contemplados pelos espaços clássicos da Filosofia. No muro, estão intelectuais como Helena Theodoro e o atual ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.
“A gente colocou 10 filósofos negros brasileiros vivos, cinco homens e cinco mulheres, na esquina da Rua do Rezende com a Riachuelo, na Lapa, a 100 metros do prédio da Academia Brasileira de Filosofia”, explica Pedro Rajão.
O grupo também homenageou um dos pioneiros do samba do Rio de Janeiro, Zé Espinguela. “Zé Espinguela é uma figura apagadíssima do samba, um dos fundadores da Mangueira, deu a ideia do primeiro concurso entre escolas de samba, que é a semente do carnaval, do maior espetáculo da terra. Isso aconteceu ali no quintal, do terreiro dele no Engenho de Dentro, onde hoje é o Arranco do Engenho de Dentro. Nós pintamos ele lá dentro”.
No caso de Espinguela, assim como no muro de Mussum pintado no Lins, os murais ocorreram no mesmo ano em que as escolas de samba Arranco do Engenho de Dentro e Lins Imperial homenagearam as duas personalidades, respectivamente. O fato, no entanto, tratou-se de uma coincidência.
Veja fotos de outros muros do projeto:
Leia també
Projeto desenvolve desenhos para ilustrar sintomas da dengue para PcDs no Rio
*Estagiário sob supervisão de Chico Alves
Deixe um comentário