Os escritores Mia Couto e José Eduardo Agualusa, ambos residentes de Moçambique, deixaram o país devido ao cenário de violência que se instalou no território desde outubro e tem se intensificado nas últimas semanas. Protestos são frequentes em Moçambique após a vitória eleitoral do atual partido no poder. A oposição denuncia o resultado como fraudulento.
Em mensagem para uma comunidade de escritores brasileiros, Mia Couto, depois de agradecer pela solidariedade, disse: “Não estamos nem eu nem o Agualusa em perigo”.
Segundo Mia Couto, junto com quase toda a família, ele conseguiu abrigo na África do Sul. Agualusa, a companheira e a filha estão também fora de Moçambique.
No fim de novembro, Agualusa publicou em suas redes sociais: “esta manhã as ‘forças da ordem’ de Moçambique lançaram um carro em alta velocidade contra manifestantes pacíficos e indefesos. Uma jovem manifestante ficou ferida com gravidade. Isto é inaceitável. Toda a minha solidariedade para com o povo moçambicano”.

Mia Couto e José Eduardo Agualusa. (Foto: César Ferreira)
Moçambique tem dias violentos após eleições
Na última segunda-feira (23), o Conselho Constitucional de Moçambique confirmou a vitória do candidato da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Daniel Chapo, de 47 anos, com 65% dos votos. As eleições aconteceram em 9 de outubro. A Frelimo está no poder desde 1975, na independência da ex-colônia portuguesa na África.
O Conselho atribuiu 24% dos votos ao seu principal adversário, Venâncio Mondlane (Partido dos Optimistas para o Desenvolvimento de Moçambique), de 50 anos, que denuncia fraudes. Pastor evangélico, Mondlane tem usado a seu favor a revolta da população, em particular da juventude, e é conhecido como um “bolsonarista africano”. É carismático e com grande poder de oratória.
Muitas organizações da sociedade civil, incluindo a Igreja Católica, têm vindo a público denunciar irregularidades na contagem dos votos. Jovens enchem as ruas gritando contra a suposta fraude eleitoral, a corrupção e a pobreza. O ministro do Interior, Pascoal Ronda, afirmou, na terça (24), que nas últimas 24 horas foram registrados 236 “atos de violência grave”.
Ao todo, segundo a plataforma eleitoral Decide, pelo menos 56 pessoas morreram e 152 foram baleadas na sequência da contestação aos resultados das eleições-gerais moçambicanas. Os dados não estão consolidados e esses números contradizem os números de Pascoal Ronda, que fala em 21 mortos. A plataforma eleitoral Decide monitora os processos eleitorais no país. As primeiras eleições em Moçambique aconteceram em 1994, após o fim da guerra civil.
Dois dirigentes da oposição, Elvino Dias e Paulo Guambe, do Podemos, foram assassinados a tiros em uma rua de Maputo ainda em outubro. O partido era quase desconhecido até as eleições. Elvino, advogado, estava recolhendo provas de fraude nas eleições quando foi morto.
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