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Próximo presidente do Brasil terá que lidar com uma ‘economia em apuros’, indicam projeções

Previsões indicam que o cenário de inflação alta não deve mudar tão cedo. População continuará vivenciando seus efeitos nefastos
14/07/2022 | 13h50

Órgãos oficiais e instituições internacionais apontaram quatro pontos centrais do cenário econômico brasileiro que podem colocar a “economia em apuros” em 2023. São eles: crescimento econômico, inflação, desemprego e contas públicas.

Com a aprovação da PEC Eleitoral, a PEC dos Auxílios, ontem (13) pela Câmara dos Deputados, a situação da economia brasileira tende a piorar, uma vez que a proposta cria um estado de emergência.

O levantamento desses pontos sobre a economia do Brasil foi realizado pela BBC News, lembrando que os indicadores são reavaliados diante de cada novo acontecimento relevante no Brasil e no mundo.

Crescimento econômico pífio pode deixar a ‘economia em apuros’

As projeções para o crescimento da economia brasileira indicam um “pibinho” (PIB – Produto Interno Bruto) ao fim de 2022. A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) projetou apenas 0,6% de crescimento do Brasil neste ano; o Banco Central prevê 1,7%; a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado estima cerca de 1,4%; e o Boletim Focus (levantamento semanal de expectativas do mercado colhidas pelo Banco Central), divulgado no último dia 11, aponta 1,59%.

O economista Fábio Terra, professor de Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC), faz uma analogia a respeito das projeções para a economia brasileira: “É andar de lado, igual a um caranguejo”.

Na previsão da OCDE, a instituição destacou que a inflação afetou o poder de compra dos brasileiros e aponta que a eleição presidencial de 2022 adiciona incerteza, afetando o investimento. Acrescenta ainda que “a recuperação do mercado de trabalho tem sido lenta”.

Para 2023, a entidade prevê um crescimento de 1,2% para o Brasil, pouco menos da metade da projeção para o avanço no mundo (2,8%). Antes, a OCDE previa que o Brasil poderia crescer 2,1% no próximo ano.

Há ainda a possibilidade de uma recessão global, a qual pode impactar no país. Quando isso acontece, os investidores tendem a buscar maior segurança, o que significa tirar dinheiro de países como o Brasil. Esse temor de recessão está ligado, principalmente, à expectativa de que países como os Estados Unidos subam mais os juros, fortalecendo o dólar em relação a outras moedas.

Inflação continua pesando no bolso e prato da população

A população do país sente no seu dia a dia o impacto inflacionário, refletido nos aumentos de preços de alimentos e de combustíveis, o que tem prejudicado a economia do país. As previsões indicam que este cenário não deve mudar tão cedo.

O Banco Central (BC) já reconheceu que a meta da inflação estabelecida para 2022 não será cumprida. A projeção é de o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, índice oficial para medir inflação no Brasil) fique em 8,8% neste ano, ou seja, muito acima da meta fixada em 3,5% para este ano (com margem para oscilar entre 2% e 5%).

A previsão do Boletim Focus (em 11/7) é de inflação de 7,67% para este ano, ou  seja, bem próxima da projeção do BC.

Segundo Fábio Terra, com a inflação nas alturas, o Banco Central sobe a taxa de juros para tentar contê-la, mas isso também impacta negativamente na atividade econômica, pois se trata de um desestímulo para o investimento produtivo.

Para 2023, as previsões do BC são de inflação menor que em 2022, mas ainda em níveis elevados. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve ficar em torno de 4%. Grande parte dos economistas, no entanto, apostam em um índice mais alto, perto de 5% ou 6%.

Apesar de queda na taxa, desemprego continua afetando milhões

Apesar dos indicadores oficiais do nível de desemprego indicarem uma recuperação, com a taxa de desemprego caindo para 9,8% no trimestre encerrado em maio (dados do IBGE), ainda são 10,6 milhões de brasileiros sem trabalho. Além disso, a alta se deve ao aumento de trabalhos informais, sem carteira assinada.

Fábio Terra explica: “A gente fala que o mercado de trabalho está melhorando. Mas qual é essa melhora? Sobretudo, o mercado de trabalho informal. Há uma metáfora para comunicar isso, que é o ‘se vira nos 30’ — a renda está caindo, a pessoa precisa trabalhar, agora já não tem mais que fazer distanciamento social, tem vacinação… Aí as pessoas estão fazendo o que dá para sobreviver, para poder trabalhar — então vai trabalhar como entregador, como diarista”.

A informalidade também reflete na renda dos trabalhadores. Os dados do IBGE apontam que o rendimento médio real do trabalhador (R$ 2.613) ainda é 7,2% menor na comparação do trimestre encerrado em maio de 2022 com o igual período de 2021.

Para os economistas ouvidos pela reportagem da BBC News, é difícil acreditar que haverá uma melhora do desemprego, tendo como base o cenário atual.

Contas públicas têm injeção de recursos, mas economia segue desaquecida

Se para a população a inflação tem um efeito devastador, ao corroer o poder de compra, para os cofres públicos ela tem um efeito “positivo”, aumentando a arrecadação do governo. Isso se explica porque, devido ao aumento dos preços dos produtos, com as empresas lucrando mais, a base de arrecadação também sobe.

A arrecadação de tributos federais foi a mais alta em 28 anos — atingiu R$ 165,3 bilhões em maio, recorde para o mês desde 1995, quando começou a série histórica da Receita Federal.

No entanto, esse aumento de arrecadação só pode ser comemorado quando ele reflete em uma atividade econômica mais aquecida, o que não é caso brasileiro.

Para os analistas financeiros, o governo não pode contar com esse aumento de arrecadação no médio prazo, uma vez que ele é temporário e as medidas fiscais adotadas de 2021 para cá, principalmente, pioram a trajetória fiscal futura em termos de aumento de gastos e redução de receita.

Além disso, esse conjunto diminui a confiança das pessoas no compromisso com a responsabilidade fiscal, o que deve ser piorado com a aprovação da PEC Eleitoral ontem.

Redação ICL Economia
Com informações da BBC News

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