Por Vinícius Konchinski — Brasil de Fato
A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de elevar tarifas comerciais sobre produtos vindos de outros países e o anúncio de retaliações vindas da China devem prejudicar a indústria e o setor de serviços do Brasil. Por outro lado, produtores de soja brasileiros devem lucrar com as medidas.
Isso é o que indica um estudo do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea), do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele foi divulgado no último domingo (6). É assinado por Edson Paulo Domingues, João Pedro Revoredo e Aline Souza Magalhães.
O estudo leva em conta as medidas anunciadas por Trump na quarta-feira (2) e também a possibilidade de a China revidar as ações — algo, aliás, que já aconteceu.
Segundo ele, a guerra comercial aberta entre os dois países deve acarretar uma queda de 0,16% no Produto Interno Bruto (PIB) global, que representa a soma de toda a produção econômica mundial. A perda equivale a 128 bilhões de dólares ou cerca de R$ 755 bilhões, considerando a cotação atual da moeda dos EUA.
Essa queda seria resultado da retração de 2,81% do comércio global, que perderia 592 bilhões de dólares (quase R$ 3,5 trilhões). Prejudicaria principalmente os EUA e a China, mas também outros países do globo.
No caso do Brasil, entretanto, a guerra comercial levaria a um aumento do PIB. Esse movimento estaria ligado exclusivamente a um incremento das exportações de soja do país para a China, resultado da barreira imposta contra a soja dos EUA.
Só as exportações de soja devem crescer 4,8 bilhões de dólares (cerca de R$ 28 bilhões). Esse ganho, sozinho, tende a compensar a perda de 3,5 bilhões de dólares da indústria (R$ 20 bilhões); de 375 milhões de dólares do setor de serviços (R$ 2,2 bilhões); e mais 587 milhões de dólares (R$ 3,4 bilhões) de perdas de outros setores da agropecuária.
“O Brasil observaria um pequeno benefício, na ordem dos US$ 350 milhões [R$ 2 bilhões] no PIB. Do ponto de vista setorial, essencialmente, o único setor brasileiro beneficiado seria o de sementes oleaginosas (soja), o qual destinaria boa parte de sua produção para as exportações e geraria o resultado positivo no PIB”, resume o texto.

Tabela aponta impactos da guerra comercial entre EUA e China sobre exportações brasileiras. (Foto: Nemea/Cedeplar)
Perda no setor Industrial
Para os autores do estudo, apesar desse ganho numérico, a guerra comercial trará outras perdas para o Brasil. Uma delas é a desindustrialização: “A elevada perda de exportações e produção da indústria brasileira sugere efeito de ‘desindustrialização’ na economia”, diz o texto.
A desindustrialização causaria ainda consequências significativas nas perspectivas futuras de crescimento e para a geração de empregos mais qualificados e com maior remuneração.
Alguns economistas ouvidos pelo Brasil de Fato já apontaram o risco do aumento das exportações do agro pressionar a inflação de alimentos no país, que já está elevada. Isso porque faria mais sentido para um produtor enviar soja para a China do que vendê-la internamente para transformá-la em ração para animais ou óleo.
Revoredo, um dos autores do estudo no Nemea, afirma que não acredita nessa consequência. “Esse novo conjunto de tributação internacional vai favorecer os produtores, que vão produzir mais. Essa produção adicional vai ser enviada ao exterior”, previu.
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