Por Gustavo Cabral *
As grandes cidades enfrentam desafios complexos relacionados à poluição, que afeta severamente a qualidade de vida. Em São Paulo, a situação é particularmente crítica devido à combinação de queimadas. Durante a temporada seca, as queimadas são acentuadas, o que potencializa a liberação de grandes quantidades de partículas finas e gases tóxicos, intensificando a poluição atmosférica e agravando problemas respiratórios. A falta de chuvas, agravada pelas mudanças climáticas e pela urbanização desordenada, também contribui para a poluição dos rios e córregos, gerando odores desagradáveis e piorando ainda mais o ambiente urbano.
A poluição atmosférica nas grandes cidades resulta de diversas fontes, incluindo veículos, indústrias e construção. Os principais poluentes são as partículas suspensas, que podem penetrar profundamente nos pulmões e na corrente sanguínea, e gases tóxicos como óxidos de nitrogênio e dióxido de enxofre, que formam smog e agravam problemas respiratórios.
O ozônio, formado por reações químicas na presença de luz solar, também contribui para a deterioração da saúde respiratória. Durante a seca, as queimadas intensificam esses problemas, liberando poluentes adicionais e exacerbando as mudanças climáticas e a formação de ozônio troposférico, um poluente perigoso formado na baixa atmosfera, onde causa sérios danos à saúde e ao meio ambiente. Ao contrário do ozônio estratosférico, que protege contra raios UV, o ozônio troposférico agrava problemas respiratórios e prejudica o ecossistema, de modo geral.
A falta de chuva exacerbada pelas mudanças climáticas também tem um impacto significativo sobre os corpos d’água e o manejo de esgoto em São Paulo. A diminuição dos níveis de água nos rios Tietê e Pinheiros concentra os poluentes, tornando a água mais poluída e difícil de tratar. Sem a diluição natural proporcionada pelas chuvas, a poluição dos rios e córregos se intensifica. Além disso, a baixa umidade e a água estagnada contribuem para o acúmulo de resíduos orgânicos e a liberação de gases como metano e sulfeto de hidrogênio, que produzem odores fortes e desagradáveis. Esses odores são uma consequência direta da decomposição de resíduos nos esgotos, exacerbada pela falta de fluxo de água e pela concentração de poluentes. A combinação de poluição atmosférica, impactos das queimadas e a deterioração dos corpos d’água resulta em uma piora na qualidade de vida, afetando gravemente a saúde pública e a habitabilidade urbana em São Paulo.
A exposição contínua a poluentes atmosféricos em São Paulo, intensificada pelas queimadas, está gerando graves impactos na saúde da população tanto a curto quanto a médio prazo. A curto prazo, a inalação de partículas finas e gases tóxicos pode agravar condições respiratórias preexistentes, como asma e bronquite, e aumentar a susceptibilidade a infecções respiratórias.
A fumaça das queimadas também contribui para a diminuição da função pulmonar e eleva o risco de doenças cardiovasculares, como infartos e acidentes vasculares cerebrais, devido à inflamação e estresse oxidativo provocados pelos poluentes. A médio prazo, a exposição prolongada pode levar ao desenvolvimento de doenças respiratórias crônicas e à redução da função pulmonar. Além disso, a poluição atmosférica está associada a distúrbios cognitivos e ao aumento do risco de câncer de pulmão, com efeitos particularmente graves em crianças e idosos, que são mais vulneráveis a esses impactos.
Estudos recentes confirmam a relação entre poluição e problemas de saúde, destacando a necessidade urgente de medidas para mitigar os efeitos da poluição e proteger a saúde pública.
Por fim, não podemos observar tudo que está acontecendo e achar que as coisas vão melhorar. É preciso que haja medidas cada vez mais enérgicas para mitigar os impactos da poluição e das queimadas, e adotada uma abordagem integrada que combine políticas públicas, inovação tecnológica e ações comunitárias. A implementação e rigorosa aplicação de normas ambientais, como a redução das emissões de poluentes por veículos e indústrias, é fundamental.
Incentivar o uso de transporte público, bicicletas e veículos elétricos pode reduzir significativamente a poluição do ar. Investimentos em tecnologias limpas que minimizam a emissão de poluentes também são essenciais para melhorar a qualidade do ar. Além disso, a ampliação e modernização das estações de tratamento de esgoto, juntamente com práticas de reuso e conservação da água, são necessárias para enfrentar os problemas relacionados à poluição hídrica.
O monitoramento constante da qualidade do ar e da água, aliado a campanhas de conscientização que informem a população sobre os riscos da poluição e as medidas para reduzir a exposição, pode promover uma maior participação comunitária na preservação ambiental. A adoção dessas medidas não apenas protege a saúde pública, mas também contribue para um ambiente urbano mais sustentável e saudável, conforme evidenciado por estudos e recomendações de organizações científicas e ambientais.
*Imunologista PhD pela USP, Pós-Doutor pelo Instituto Jenner da Universidade de Oxford, Inglaterra e Pós-Doutor Sênior pelo Hospital Universitário de Bern, Suíça.
Atualmente é Coordenador de Pesquisa para o Desenvolvimento Tecnológico de Vacinas no Departamento de Infectologia e Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP.
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