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Adaílton Moreira Costa

Babalorixá do Ile Axé Omiojuarô, Doutorando em Bioética PPGBIOS UFRJ. Mestre em Educação Proped UERJ. Graduado em Ciências Sociais PUC RJ

Quem mandou matar a esperança?

A natureza não aguenta mais tantos desrespeitos ao seu meio por parte dos seres humanos
30/01/2024 | 23h11

A natureza não aguenta mais tantos desrespeitos ao seu meio por parte dos seres humanos.

Nas últimas tempestades que assolaram o Sul e Sudeste do país, as populações menos privilegiadas e vulnerabilizadas foram as mais prejudicadas, perdendo seus bens domésticos e até vidas.

As autoridades públicas deveriam estar mais atentas às regiões e à população que a cada ano passam pelos mesmos problemas, que a cada estação vêm com mais força devastadora.

Não há como culpar somente o povo que joga lixo nas ruas, entupindo bueiros e as galerias fluviais. Essas justificativas não devem ser o foco, a questão é bem maior!

É preciso politicas públicas efetivas que tenham como pauta primordial o meio ambiente.

Penso que temos, como seres humanos, que ser incluídos no meio ambiente não como se estivéssemos apartados dessa agenda e dessa discussão de suma importância.

É preciso que educação ambiental não esteja somente nas academias, com um grupo seleto, que discutirá verticalmente sem integralizar as pessoas, que irão trazer suas reivindicações sobre os seus meios ambientes e como elas se sentem e se percebem em seus territórios.

É preciso participação na construção desta agenda e pauta de forma constitutiva e construtiva, pondo seus pontos de vistas e conhecimento a serviço da sociedade.

Os experts precisam estar no campo, conhecendo as comunidades, os locais e seus territórios, de forma horizontalizada,ou então será de novo a conversa mole de sempre!

Pessoas perdendo suas vidas físicas, materiais e sociais sem nenhum tipo de apoio do poder público, já que elas e seus territórios parecem ter valor.

Lugar de negros, indígenas e pobres jamais será prioridade para a burguesia e para as classes poderosas deste país.

O pior de tudo, é que ninguém se sente corresponsável pelo desequilíbrio do clima, o desmatamento, a poluição dos rios e mares, predação da fauna e flora sem nenhum escrúpulo, como se não estivéssemos em uma cadeia de causa e efeito.

O alto consumo humano, o uso ainda de combustível fóssil em vez de energia limpa… Não dá para compreender, esta conta não fecha.

Em um país que é cercado por uma orla marítima abundante, com um clima de alta capacidade de energia eólica, não consigo conceber como se justificam as práticas de destruição do que nos sustenta e nos mantém vivos.

Os recursos naturais são finitos, todos já sabem, mas o lucro pelo lucro fruto do capitalismo e desta politica neoliberal universal vai ditando as regras insanas.

Alguém ganha muito em poluir para ter lucro, e usar as pessoas como “Boi de piranha”!

É necessário que fiquemos de olhos bem abertos para estes estratagemas bem delineados por quem estabelece como será nossas vidas. Pois nós não temos foguetes que nos leve a marte depois que vampirizarem o planeta, sugando o mundo de canudinho.

No caso específico das tradições de matrizes africanas, grupo do qual faço parte, seremos extremamente prejudicados e chacinados em nossas culturas, podendo chegar à extinção, ou talvez vir a nos tornar mutantes que terão que fazer tantas ressignificações adaptativas, que usaremos as plantas de plástico das Lojas Americanas, água desidratada que alguma empresa se encarregará de criar, Exu virtual, Iemanjá em mar de tela plana, galinha venusiana, etc.

Brincadeiras à parte, a situação está caótica. Tudo fruto da ganância humana!

Enquanto isso, vamos esperar a próxima tempestade pra boiarmos em nossos colchões, e esperar que a enchente não suba além de nossas lajes e não nos leve por um cruzeiro contra as nossas vontades. Um tour que vai dar na Baia da Guanabara, desde sempre poluída,  e, de brinde, pegaremos leptospirose, hepatite e tantas outras doenças.

Há um ditado que diz, que“a esperança é a última que morre”

Para alguns, a esperança nem nasceu, pois somos filhos de um determinismo social excludente de direitos, em que não há espaço para o conceito de sociedade equânime.

Ah, há esperança?

 

 

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