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O ex-presidente Jair Bolsonaro, indiciado pela Polícia Federal por planejamento e envolvimento em golpe de Estado, segue negando sua participação nos ataques à democracia. Em entrevista às jornalistas Raquel Landim e Letícia Casado, do UOL, ele voltou a recorrer à falsa argumentação de que é “perseguido” e indica que está cogitando refúgio em embaixada.

“Embaixada, pelo que vejo na história do mundo, quem se vê perseguido, pode ir para lá”, disse.

A seguir, fez uma ressalva: “Se eu devesse alguma coisa, estaria nos Estados Unidos, não teria voltado”.

Pois segundo a Polícia Federal, na ocasião da viagem aos Estados Unidos Bolsonaro se beneficiou justamente de um plano de fuga elaborado pelo tenente-coronel Mauro Cid para o caso de o golpe de Estado não dar certo.

O plano foi elaborado em 2021, quando Bolsonaro tensionava a relação com o STF (Supremo Tribunal Federal), mas só foi posto em prática nos últimos dias de 2022, quando ele abandonou a Presidência e foi para os Estados Unidos.

Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro de 2022, um dia antes do fim de seu mandato. Para que a viagem fosse viabilizada, Cid articulou a falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19 para Bolsonaro e sua filha Laura Bolsonaro. Cid, sua esposa e suas três filhas também se beneficiaram do esquema.

“Apesar de não empregada no ano de 2021, o plano de fuga foi adaptado e utilizado no final do ano de 2022, quando a organização criminosa não obteve êxito na consumação do golpe de Estado. Conforme será descrito nos próximos tópicos, JAIR BOLSONARO, após não conseguirem o apoio das Forças Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país, para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 08 de janeiro de 2023  (“festa da Selma”)”, conclui a PF.

Na entrevista ao UOL, Bolsonaro foi perguntado sobre a possibilidade de ser preso. O ex-presidente respondeu que está vivendo “num mundo das arbitrariedades” e volta a atribuir a Alexandre de Moraes a responsabilidade pela “perseguição”.  “Vivemos num mundo das arbitrariedades. (…) Corro risco, sem dever nada, corro risco. [O STF] Vai fazer a arbitrariedade, vamos ver as consequências. O que eu tenho a ver com o cara do rojão? Caiu na minha conta. O próprio Alexandre no dia seguinte: pau em mim…”.

Bolsonaro: ‘É uma grande história’

Bolsonaro disse que as investigações da Polícia Federal que revelaram o plano para sequestrar e matar o ministro do STF, são obra da “criatividade” de “suposições” do STF.

“É uma grande história. A PF faz aquilo que o senhor ministro [Alexandre de Moraes] assim deseja. Basta você ter conhecimento dos áudios do Airton Viera [juiz instrutor de Moraes] para o Tagliaferro [Eduardo Tagliaferro, funcionário do TSE]: ‘Tenha criatividade’. [expressão usada por Airton para Tagliaferro ao pedir investigação contra uma revista]. Aí o que fazem são suposições”.

Seguindo uma linha de argumentação adotada pelos seus principais apoiadores, incluindo os filhos Flávio e Eduardo, Bolsonaro tenta ridicularizar os planos de matar e envenenar as autoridades encontrados na investigação da PF, afirmando ser uma “loucura” e uma “bravata”. “Que plano era esse? Dar um golpe com um general da reserva, três ou quatro oficiais e um agente da PF? Que loucura é essa?”.

O ex-presidente refuta a possibilidade de o Judiciário usar a “teoria do domínio de fato”, linha de acusação do então juiz Sérgio Moro na Lava-Jato, em seu caso. De acordo com Bolsonaro, haveria um volume de provas em relação a Lula, quando “agora tem uma única delação, que ninguém mostra. Por que não mostra?”, referindo-se à delação do seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que está sob segredo de Justiça.

As anotações encontradas na agenda do general Augusto Heleno detalham a estratégia de desestabilização política que levariam ao golpe de Estado que beneficiaria Jair Bolsonaro (Foto: Sérgio Lima/Agência Brasil)

Confrontado com o fato de que o relatório entregue à PGR por Alexandre de Moraes na terça-feira (26), teria provas e documentos, incluindo as anotações manuscritas na agenda do general Augusto Heleno, o ex-presidente devolve simulando ignorar o plano Punhal Verde Amarelo.

“O que é esse plano [Punhal] Verde e Amarelo de que você fala? É de 2022. Não tenho a menor ideia do que seja isso. Começou a colocar em prática esse plano? Pelo que eu sei, não”.

Bolsonaro, porém, admite que chegou a discutir as possibilidades de golpe de Estado, alegando falsamente que estaria “baseada na Constituição”: “Minuta do golpe é baseada na Constituição. Para que serve a Constituição? É a nossa lei máxima.”

“Eu entendo que ali é um norte para você seguir. Se tem um remédio ali, por que não discutir? Foi discutida a hipótese de GLO, de 142, de estado de sítio, estado de defesa. Qual é o problema de discutir isso aí?”

E, apesar de todas as críticas e acusações ao processo eleitoral brasileiro, Jair Bolsonaro declara que se mantém candidato em 2026, mesmo estando inelegível: “Sou um réu sem crime. Fui condenado [tornado inelegível pelo TSE] sem crime nenhum”. Para vice, ele especula: “Talvez um nordestino, um pau de arara, um cabra da peste…”.

 

 

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