Ao menos quinze escolas da cidade de Duisburg, na parte ocidental da região do Ruhr na Renânia do Norte-Vestfália, fecharam as portas nesta segunda-feira (7), após receberem cartas com ameaças de ataques extremistas, deixando mais de 18 mil estudantes sem aulas.
Conforme noticiado pela imprensa alemã, na sexta-feira (4), a administração escolar da Gesamtschule-Mitte, em Duisburg, recebeu o primeiro e-mail contendo “declarações ameaçadoras de extremistas de direita”. Segundo a polícia, o remetente ainda desconhecido havia anunciado os ataques para esta segunda-feira na escola.
No domingo (6), a mesma escola recebeu outro e-mail ameaçador que mencionava ataques a outras instituições. As cartas falavam em fazer uma “limpeza” ou “purificação”. Mais detalhes sobre o conteúdo ainda não foram revelados.
O prefeito de Duisburg, Sören Link, apoiou a decisão de cancelar o ensino presencial. Em uma declaração no Facebook, ele disse que “a segurança vem em primeiro lugar”.
O jornal Westdeutsche Allgemeine Zeitung noticiou que as autoridades locais classificaram as cartas como “Nível de Ameaça 2” — que incluiria o perigo de ataques violentos a vários estudantes ou ameaças de morte — em seu plano de ação.
A polícia anunciou presença nas escolas afetadas para “minimizar ainda mais qualquer possível risco” e afirmou que investigações sobre a identidade do autor e o histórico da ameaça estavam em andamento.
As ameaças enviadas no fim de semana são o segundo incidente desse tipo a afetar escolas de Duisburg nas últimas semanas. Em 24 e 25 de março, houve ameaças de ataques no Ginásio Steinbart, em Dellviertel, em Duisburg. Pouco depois, ameaças terroristas foram encontradas nos banheiros da escola St Hildegardis Grammar School, na mesma rua.
As ameaças acontecem em um momento de escalada da extrema-direita na Alemanha. O partido de extrema-direita, AfD, ficou em segundo lugar nas últimas eleições para o parlamento em fevereiro, levando o partido vencedor, CDU/CSU, a negociações difíceis para formar coalizão com outros partidos, “pulando” o segundo colocado, e assim manter o cordão de isolamento contra os extremistas. As negociações continuam em andamento e o provável novo chanceler, Friedrich Merz, ainda não assumiu o cargo.
Desde fevereiro, segundo pesquisas de opinião, a popularidade da AfD cresceu ainda mais, enquanto a de Merz despencou. De acordo com o instituto ARD Deutschlandtrend, 70% dos eleitores estão insatisfeitos com o provável futuro chanceler Merz.
De 31 de março a 2 de abril, segundo os pesquisadores, a CDU/CSU caiu para 26%, o menor índice desde outubro de 2022, enquanto a AfD atingiu um novo recorde de 24%.
Nas ruas, marchas neonazistas têm tentado caminhar. A boa notícia é que, ao menos em Berlim, essas manifestações têm sido impedidas por contra-marchas antifascistas.
A coluna seguirá acompanhando desdobramentos das ameaças às escolas e trará novas informações assim que divulgadas.
E uma novidade: Por sugestão de leitores, trarei aqui semanalmente indicações de livros que aprofundam análises e discussões sobre a escalada da extrema-direita no mundo.
A primeira indicação é o excelente “A rebeldia tornou-se de direita?”, do jornalista e historiador argentino Pablo Stefanoni, traduzido para o português pela Editora Unicamp. A introdução do livro define: “Muitos, nas direitas alternativas, insistem em que a rebeldia juvenil está de seu lado.
Podemos responder com um meio sorriso desdenhoso, reafirmar-nos em nossa convicção de que a rebeldia sempre será nossa, mencionar diferentes rebeliões progressistas ou — e esse é o objetivo deste livro — aceitar a provocação e ir ver em que consiste essa rebeldia, que é que querem e por que tem gente que os segue”.
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