A Câmara dos Deputados está prestes a consumar um dos maiores absurdos políticos dos últimos tempos. Por indicação do PL, a Comissão de Relações Exteriores da Casa deverá ter como presidente Eduardo Bolsonaro (PL-SP), justamente o parlamentar que está gastando dinheiro público em uma maratona nos Estados Unidos para implorar que o governo de Donald Trump se intrometa em assuntos de Estado do Brasil.
Desde a posse de Trump no atual mandato como presidente dos Estados Unidos, Eduardo faz lobby com políticos norte-americanos contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, a quem acusa de agir politicamente motivado contra seu pai. O deputado golpista diz que o Brasil não é um regime democrático.
O deputado Lindbergh Farias (PT), líder da bancada do PT na Câmara, está inconformado. “Aceitamos qualquer nome, menos o dele. O dele só se for sem passaporte”, afirmou Lindbergh. O parlamentar afirmou que o objetivo da sigla é impedir que Eduardo utilize a comissão para fazer uso de “um governo estrangeiro contra os interesses nacionais e contra o STF”.
“Não abriremos mão de pedir a Comissão de Relações Exteriores porque entendemos que nesse momento o Eduardo Bolsonaro tem a prerrogativa de representar o partido presidindo essa comissão, tendo ou não passaporte”, disse o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido na Câmara, em entrevista ao programa Estúdio I, da Globonews.
Para Sóstenes, o lobby de Eduardo nos EUA é uma ação “democrática”.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que não fará nada contra a indicação do filho de Jair Bolsonaro para a comissão.
Já o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) acionou a Procuradoria Geral da República (PGR) contra Eduardo por “crime contra a soberania nacional.
Em postagem na rede social X, Boulos afirmou que o deputado “patriota” está nos Estados Unidos “conspirando abertamente contra o Brasil”.
A Comissão de Relações Exteriores não é apenas simbólica. A comissão tem um papel fundamental na análise de tratados e acordos internacionais, incluindo os acordos entre Brasil e China assinados durante o G20, realizado no Rio de Janeiro em novembro do ano passado.
Entregar a presidência do grupo a um deputado conspirador será um gesto que entrará para a história da Câmara como um dos momentos de maior conflito da Casa com o Estado Democrático de Direito no Brasil.
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