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Por Armando Holanda*

Para se construir um diálogo, cientificamente falando, basta que duas ou mais pessoas, a partir de um interesse comum, se prontifiquem e estejam dispostas a tê-lo.

Na teoria é fácil, na prática também. Embora na política seja tudo um pouco menos fácil do que se pensa, o início de um diálogo é possível contanto que haja um denominador comum: a vontade.

Na gestão da governadora de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB) o ‘x’ da questão é mais problemático ainda. Com quase um ano e meio de mandato, a tucana segue em um verdadeiro embate tanto com a oposição quanto com a situação.

Em recente entrevista à CNN, Raquel sinalizou manter diálogo e pontuou que essa é uma boa face e marca de sua gestão. A população pernambucana, tampouco os parlamentares parecem não concordar.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Real Time Big Data, em março deste ano, revela uma significativa desaprovação por parte dos recifenses, com 61% deles expressando descontentamento com a gestão atual. Dentre os entrevistados, apenas 35% aprovaram o governo de Raquel, enquanto 4% não souberam ou não quiseram responder.

Em outra pesquisa, divulgada em dezembro passado, a governadora de Pernambuco figura como a pior gestora dentre os 27 governadores do país. No levantamento da Atlas Intel, Raquel tem apenas 36% de aprovação e 49% de desaprovação, fazendo com que a gestora pernambucana figure na pior avaliação do país.

Rusgas e falta de diálogo

Recente exemplo de rusgas com a situação foi com o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o deputado estadual Álvaro Porto (PSDB) — mesmo partido da gestora pernambucana. O próprio parlamentar sinalizou, em dezembro do ano passado, que não conseguia manter um diálogo direto com a chefe do Executivo.

“A governadora falou que faria uma nova maneira de fazer política, que seria diferente dos outros governos, mas quem está na política sabe que tem que ter a parte política”, revelou o parlamentar em recente entrevista.

Entre os calos da gestora, estão os profissionais da saúde, educação e segurança. Setores esses, inclusive, que Raquel Lyra disse priorizar à época de sua candidatura. O que, na prática, embora tenha destinado verbas e “atualizado” as viaturas de polícia e fardamento, parecem não estar funcionando.

Na ausência de abertura e diálogo com o governo, os sindicatos estaduais estão tanto adotando estratégias mais diretas quanto procurando o legislativo para estabelecer uma ponte mais “certeira”.

Segurança precária

Segundo dados da Secretaria de Defesa Social (SDS) divulgados na noite dessa segunda-feira (6), o Estado registrou mais de 1,3 mil assassinatos em quatro meses. Houve um aumento de 7,2% se comparado com o mesmo período de 2023, quando janeiro, fevereiro, março e abril somaram 1.223 mortes violentas.

De janeiro a dezembro de 2023, 120 pessoas foram mortas por policiais e agentes de segurança pública em Pernambuco. Em média, a polícia matou uma pessoa a cada três dias no estado, segundo levantamento do G1. O número é 30,42% superior ao registrado no ano de 2022, quando os agentes de segurança pública foram responsáveis por 92 mortes no Estado.

Educação sem atenção

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) vem reivindicando os direitos da classe. Segundo a organização, desde janeiro de 2024, o governo do Estado não se manifestou sobre o reajuste do Piso Salarial na carreira da educação, como determina a Lei Federal 11.738/2008, a Lei do Piso do Magistério. Em 2023, o Governo de Pernambuco deixou de fora de qualquer reajuste salarial mais de 52 mil trabalhadores da educação.

Segundo o sindicato, a Pauta de Reivindicações da Campanha Salarial Educacional 2024 com cerca de 43 itens para debater nas negociações já foi apresentada ao governo Raquel Lyra (PSDB). Entre as principais demandas estão o piso salarial e seu impacto na carreira e a reformulação do Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR).

Em meio a tantas reivindicações, o governo de Pernambuco ainda não deu nenhuma solução sequer se mostrou disposto a mudar a rota. Os sindicatos, instituições e parlamentares tentam manter um canal de comunicação que parece que a gestora não quer manter.

Existe espaço e existe possibilidade. Mas, para que tudo funcione, é preciso disposição para dialogar. Algo que vem faltando.

*Armando Holanda é jornalista formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Pós-graduando em UX pela PUC-RS. Vencedor do prêmio Jovem Jornalista do Instituto Vladimir Herzog de 2020

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