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Bruno Natal

Jornalista, documentarista e apresentador do podcast RESUMIDO (www.resumido.cc), sobre o impacto da tecnologia em todos os aspectos das nossa vidas, e da newsletter O Futuro Explicado (www.resumido.substack.com). Disponível nas principais plataformas de streaming.

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Redes nada sociais

A disputa entre o desejo por privacidade e a ganância corporativa está só começando
16/05/2025 | 06h22
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As redes sociais aos poucos estão deixando de ser sociais. Plataformas como Facebook, Instagram, Twitter, TikTok que eram usadas para manter contato com amizades e família se transformaram e hoje em dia são um deserto de posts pessoais.

A Meta, empresa dona do Facebook e do Instagram, já admitiu que o tempo dedicado a ver esse tipo de posts caiu muito. A maior parte dos usuários publica muito pouco e entra nos apps apenas consumir conteúdo de celebridades, marcas, memes e posts escolhidos por algoritmos.

Um dos motivos é uma maior consciência sobre os riscos da super-exposição, incluindo em relações de trabalho. Muita gente também cansou do esforço extra para manter uma performance que raramente reflete quem realmente somos. Sem falar na culpa digital de não conseguir responder mensagens e a ansiedade de estar sempre “em dia” com as notificações. Estar online virou uma trabalheira.

Há uma migração silenciosa para lugares mais reservados na internet. Grupos fechados em aplicativos como WhatsApp e Signal, perfis secretos no Instagram (contas paralelas só para pessoas próximas ou para postar qualquer bobagem sem filtro, como o “dix” e os “dailys” utilizados por adolescentes) são algumas das opções pra encontros digitais sem tanta exposição.

Pessoas influentes do Vale do Silício, como Marc Andreessen e Mark Cuban, utilizam grupos privados que funcionam como pequenos clubes de poder. Protegidos por criptografia e mensagens que desaparecem, conseguem ter conversas francas que podem moldar o debate público sem que ninguém saiba da sua existência.

Curiosamente, a fuga da exposição acontece justamente quando quase todas as crianças brasileiras já estão online, quase 100%, segundo dados da ONU. Quanto mais “conectados” estamos, menos nos conectamos de verdade. É um paradoxo: as plataformas enchem nossos feeds de conteúdo automatizado e anúncios, enquanto procuramos refúgio em conversas privadas e grupos menores. As redes sociais viraram um canal de mídia com uma camada fina de interação.

Estes espaços mais íntimos são uma resposta ao modelo que transformou até nossas amizades em dados para nos vender publicidade. A disputa entre o desejo por privacidade do público e a ganância corporativa por mais engajamento está só começando. O futuro talvez seja feito de pequenas ilhas digitais, onde finalmente poderemos ser nós mesmos. Ou pelo menos tentar.

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