Profissionais que atuam na rede de proteção de violência contra a mulher do Estado do Rio de Janeiro reconhecem que os relatos das mulheres periféricas são mais questionados do que as que moram longe das periferias. É o que aponta relatório do Programa M, desenvolvido pelo Instituto Promundo, em parceria com a Secretaria de Estado da Mulher.
Segundo o estudo, 90% dos 430 profissionais atuantes na rede de proteção estadual reconhecem que as moradoras de periferias têm seus relatos questionados ao verbalizar alguma situação de violência quando comparadas a mulheres que não moram em território periféricos.
Os dados fazem parte da pesquisa de monitoramento e avaliação aplicada aos profissionais que participaram da capacitação do Programa M, durante o ciclo 1, entre agosto e dezembro de 2022, e durante o ciclo 2, entre fevereiro e junho de 2023. O Programa M é um manual que trabalha a equidade, prevenção, combate e enfrentamento de violências baseadas em gênero.
De acordo com o relatório, a questão racial, atrelada à discussão de gênero, também se mostrou um diferencial. Antes de participarem da capacitação, quase 20% dos profissionais nunca tinha ouvido falar sobre o conceito “feminismos negros”.
Para o Instituto Promundo, o percentual merece atenção, uma vez não foi perguntado aos participantes se eles conheciam ou sabiam aprofundar o conceito. Ao contrário, foi perguntado se eles já tinham “ouvido falar”.
O relatório aponta também percentual de quase 20% que sequer havia “ouvido falar” sobre o tema mostra o distanciamento existente entre esses profissionais e os debates de gênero e raça antes da realização da capacitação.
De acordo com estudo, o dado chama a atenção, considerando que os profissionais se inserem em espaços socioassistenciais que atendem, majoritariamente, mulheres negras.
Ainda segundo o estudo, após participarem da capacitação do Programa M, os profissionais apontaram o quanto consideram o letramento racial importante na qualidade dos atendimentos a mulheres negras.
Quase 60% dos egressos da capacitação concordaram, parcial ou integralmente, que o letramento racial é necessário para que os profissionais realizem atendimentos de qualidade a mulheres negras.
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