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Renda média do trabalhador brasileiro só cresceu na agropecuária na última década

Entre as atividades pesquisadas pelo IBGE, a maior queda no rendimento em dez anos foi registrada por alojamento e alimentação por serem atividades que dependem muito da renda da população
24/08/2022 | 19h48

A renda média do trabalho no Brasil só cresceu para o setor que envolve a agropecuária na última década. É o que indicam dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). Enquanto isso, as outras dez atividades analisadas na Pnad mostraram relativa estabilidade ou queda na renda na mesma comparação.

No segundo trimestre de 2022, o rendimento médio real da população ocupada foi estimado em R$ 1.690 na atividade de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura. O valor é 12,7% superior ao de igual intervalo de 2013 (R$ 1.500). Ou seja, houve ganho de R$ 190, em média, na década. Os cálculos levam em conta a inflação.

A pesquisa é divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e contempla tanto o mercado de trabalho formal quanto o informal.

Segundo dados do Ipea, a balança comercial do agronegócio em julho apresentou um superávit de US$ 12,8 bilhões, contribuindo para o saldo positivo de US$ 5,4 bilhões na balança comercial total – com produtos de todos os setores – no mesmo período . Os demais setores da economia, por sua vez, encerraram com um déficit de US$ 7,4 bilhões.

A variação positiva da renda no campo está associada em grande parte à valorização das commodities agrícolas na pandemia. A renda cresceu com as commodities. Porém, segundo os economistas do ICL, a área plantada de apenas três culturas, soja (46%), milho (24%) e cana de açúcar (11%), corresponde a 81% da área plantada total no País. “É o agronegócio voltado à agenda exportadora, sem atenção à alimentação do brasileiro, como culturas de feijão e arroz cada mais vez escassas e “pesadas” ao bolso do povo”, explicam os economistas do ICL Economia, André Campedelli e Deborah Magagna.

Na avaliação de especialistas consultados, outro fator que explica o desempenho é o ganho de produtividade mais intenso da agropecuária na comparação com indústria e serviços.

Segundo entrevista do professor e pesquisador da FGV Agro, Felippe Serigati, para a Folha de S Paulo, o Brasil se deparou nos últimos anos com uma demanda aquecida, em que a China responde por uma fração importante, resultando em um mercado de trabalho mais aquecido, com uma remuneração maior.

Exportação de commodities alavanca a renda média do trabalhador que atua na agropecuária 

Serigati explica que o setor da agricultura se mostrou bastante resiliente nos últimos dez anos, sendo capaz de atravessar uma série de turbulências: recessão, greve dos caminhoneiros e pandemia. Além disso a agropecuária tem uma interface grande com o setor externo, que possui uma demanda gigante por produtos que o Brasil consegue produzir.

Na média de todas as atividades pesquisadas na Pnad, a renda do trabalho principal foi calculada em R$ 2.575 no segundo trimestre deste ano.

É o menor nível para o período de abril a junho na série histórica, iniciada em 2012. Houve baixa aproximada de 3,5% frente ao segundo trimestre de 2013 (R$ 2.667).

Antes da pandemia, lembram economistas, a renda já sinalizava dificuldades para avançar em meio a uma sucessão de turbulências que atingiu a economia brasileira.

Com a chegada da Covid-19, atividades mais dependentes do contato direto com clientes foram abaladas por restrições em centros urbanos. Para complicar, a disparada recente da inflação também derrubou salários em termos reais.

Entre as atividades pesquisadas pelo IBGE, a maior queda no rendimento em dez anos foi registrada por alojamento e alimentação por serem atividades que dependem muito da renda da população.

No segundo trimestre de 2022, a renda no setor foi estimada em R$ 1.713. O valor equivale a uma perda de 14% ante igual intervalo de 2013 (R$ 1.992).

Embora tenha crescido, o rendimento médio da agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (R$ 1.690) ainda é o segundo menor entre os segmentos pesquisados pelo IBGE. Só superou o de serviços domésticos (R$ 1.034) no segundo trimestre de 2022.

Na ponta de cima da lista, a maior renda foi registrada em informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas. A quantia no segundo trimestre deste ano foi estimada em R$ 3.809.

Economistas consultados concordam que a melhora da renda, no geral, exige esforços que vão além da criação de empregos. O país também precisa avançar na qualificação da mão de obra de maneira mais profissional.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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