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Saneamento, mudanças climáticas e suas relações com a dengue

Medidas agressivas e urgentes são necessárias para enfrentar a problemática da dengue e garantir o acesso universal ao saneamento básico
01/03/2024 | 16h53

Por Gustavo Cabral*

Quando abordamos a alarmante situação da dengue, não podemos simplificar sua análise, pois é um problema complexo e multifatorial que exige uma abordagem integrada e cuidadosamente planejada. Ignorar dados recentes do IBGE e as mudanças climáticas é fechar os olhos para a realidade. Embora possamos tomar medidas paliativas para amenizar a situação, é necessário enfrentar o problema com abordagens agressivas, incluindo políticas públicas robustas e educação contínua.

É sempre necessário explicar a questão da dengue, mesmo que soe repetitivo. Esta é uma doença viral transmitida por mosquitos, e continua sendo um desafio de saúde pública em muitas regiões tropicais e subtropicais ao redor do mundo. Compreender suas formas de transmissão, complicações clínicas e medidas de prevenção é essencial para enfrentar eficazmente essa enfermidade.

A dengue é transmitida principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, que se reproduz em água parada. Esse mosquito é encontrado em áreas urbanas e periurbanas e é mais ativo durante o amanhecer e o anoitecer. A transmissão ocorre quando o mosquito infectado pica uma pessoa e depois pica outra, transmitindo o vírus.

Sintomas da dengue

Os sintomas da dengue variam de leves a graves e podem incluir febre alta, dores de cabeça intensas, dores musculares e articulares, erupção cutânea e fadiga. Em casos mais graves, a Dengue pode levar a complicações potencialmente fatais, como a Dengue Hemorrágica e a Síndrome de Choque da Dengue, que podem resultar em sangramento grave, queda da pressão arterial e falha de órgãos.

A prevenção da dengue é fundamental e pode ser alcançada por meio de várias medidas:

1. Eliminação de criadouros de mosquitos, por exemplo, é necessária uma atenção especial com recipientes que possam acumular água parada, como pneus velhos, recipientes de plástico, garrafas vazias e pratos de vasos de plantas. É necessário manter recipientes de água, como baldes e caixas d’água, devidamente fechados ou cobertos.
2. Aplique regularmente repelentes de insetos na pele exposta, especialmente durante o amanhecer e o anoitecer, quando os mosquitos são mais ativos.
3. Instale telas em portas e janelas e durma sob um mosquiteiro para evitar picadas de mosquitos.
4. As autoridades de saúde devem realizar atividades de vigilância para detectar e controlar a população de mosquitos, incluindo a aplicação de inseticidas quando necessário.
5. A educação e conscientização das comunidades sobre a importância da prevenção da Dengue, além de fornecer informações sobre como identificar os sintomas precoces da doença, são essenciais.

Mas, não nos enganemos, essa luta é mais complexa. Por isso, quero incluir mais outras questões nesta matéria, especialmente as questões de saneamento básico com os dados do IBGE e a relação das doenças infecciosas, como a Dengue, com as mudanças climáticas.

Falta saneamento

Recentemente, os dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE trouxeram à tona uma realidade preocupante. Apesar dos avanços, milhões de brasileiros ainda vivem em condições precárias quando se trata de saneamento básico. Segundo o levantamento, cerca de 49 milhões de pessoas residem em lares sem descarte adequado de esgoto, enquanto 18 milhões não têm acesso à coleta de lixo e 6 milhões sofrem com abastecimento inadequado de água.

Esses números, por si só, já seriam alarmantes o suficiente. No entanto, quando relacionamos esses dados com a problemática da Dengue e o contexto das mudanças climáticas, a situação se torna ainda mais complexa e urgente.

Por anos, a Organização Mundial da Saúde vem alertando sobre as consequências diretas da falta de saneamento básico para a saúde pública. No Brasil, estima-se que anualmente cerca de 15 mil pessoas perdem suas vidas e outras 350 mil são hospitalizadas devido a doenças associadas à precariedade do saneamento básico.

As mudanças climáticas têm agravado ainda mais essa situação. O aumento das temperaturas e os eventos climáticos extremos, como secas, tempestades e ondas de calor, têm impacto direto na propagação da dengue e de outras doenças relacionadas ao saneamento precário.

Disseminação de vetores

As secas, por exemplo, podem levar à escassez de água e alimentos, forçando as pessoas a consumirem água contaminada e aumentando o risco de doenças como diarreia e cólera. Além disso, as tempestades e inundações danificam as infraestruturas de saneamento, interrompendo o fornecimento de água potável e favorecendo a reprodução de mosquitos transmissores de doenças.

É importante ressaltar que as mudanças climáticas não apenas promovem a propagação de patógenos, mas também favorecem a disseminação de vetores, como os mosquitos adaptados a ambientes mais quentes. Esses mosquitos podem sofrer adaptações e habitar regiões onde antes não eram encontrados, aumentando o risco de transmissão de doenças como a dengue.

Diante desse cenário alarmante, medidas agressivas e urgentes são necessárias para enfrentar a problemática da dengue e garantir o acesso universal ao saneamento básico. Investimentos em infraestrutura, educação e conscientização da população, aliados a políticas públicas eficazes de combate às mudanças climáticas, são fundamentais para proteger a saúde e o bem-estar das comunidades vulneráveis.

É hora de agir com determinação e responsabilidade, pois a saúde de milhões de brasileiros está em jogo.

*Imunologista PhD e Coordenador de Pesquisa no ICB-IV da USP, para o desenvolvimento tecnológico de vacinas aplicadas contra Covid-19, Chikungunya, Zika e Dengue vírus.

 

 

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