Por Amanda Miranda — Newsletter Passando a Limpo
Apesar do esforço do governador bolsonarista Jorginho Mello em polarizar, o presidente Lula chega a Santa Catarina nesta sexta-feira, 9 de agosto, para entregas em Florianópolis e Itajaí. Esta é a sua primeira visita desde setembro de 2022, véspera do primeiro turno em que derrotou Jair Bolsonaro no Brasil. No estado, o petista perdeu para Bolsonaro.
Ao lado de apoiadores e sem a presença de Mello, Lula vai inaugurar uma obra rodoviária de impacto e pela qual a população aguarda há mais de uma década. Previsto para ser entregue em 2012, o contorno viário da Grande Florianópolis tem execução da concessionária Arteris Litoral Sul, responsável por um trecho de 50 quilômetros que promete desafogar o trânsito com um corredor expresso, seis acessos por trevos e quatro túneis duplos. O contorno é considerado a maior obra rodoviária do país e é tratado pelo governo federal como “alternativa eficiente e segura ao tráfego da BR 101”.
Além de ser considerado um estado bolsonarista, Santa Catarina é governado pelo bolsonarismo, inclusive com cargos loteados para a família e pessoas próximas ao ex-presidente, como a filha da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Na Assembleia Legislativa, na Câmara e no Senado, a bancada também é predominantemente bolsonarista.
“O presidente vem ao estado para mostrar o que está sendo feito. É o primeiro comparativo real que temos para apresentar do que era o governo anterior e o que é esse governo, com entregas”, afirma Luciano Boico, dirigente estadual do partido. Apesar de ter visitado SC inúmeras vezes em quatro anos, Bolsonaro não entregou nenhuma obra na região.
Lideranças do PT, que este ano tem seu recorde de candidaturas no estado, reconhecem que pode haver um efeito político na visita do presidente, mesmo com a restrição imposta aos candidatos em ano eleitoral. O partido de Lula lançou candidatos nas maiores cidades catarinenses, as únicas com segundo turno: Carlito Merss, em Joinville; Vanderlei “Lela”, em Florianópolis e Ana Paula Lima em Blumenau.
Na agenda do presidente, um sobrevoo pela área do contorno viário, o lançamento de uma fragata da Marinha em Itajaí. O evento na Grande Florianópolis, aberto, deve receber, segundo previsão do PT, cerca de 10 mil pessoas. “Esperamos nesse público a militância, mas também a sociedade civil, que aguardou essa obra que vai mudar a vida na Grande Florianópolis. Achamos que Lula voltou no tempo certo, com entregas consistentes para o povo trabalhador”, sintetiza o dirigente.
A preocupação com a segurança do presidente e possíveis ameaças em um estado visto como bolsonarista foram transferidas à Polícia Federal. O partido chegou a mapear “falas inadequadas” por parte da militância extremista, mas minimiza possíveis inconvenientes e constrangimentos à agenda.
“Onda Lula” e rejeição
Tratada como um território bolsonarista, Santa Catarina deu a Lula, em 2002, 56% de votos válidos já no primeiro turno. No ano em que Lula se elegeu presidente pela primeira vez, uma “onda” tomou conta do Estado, influenciando inclusive na eleição para o governo, quando Luiz Henrique da Silveira, então PMDB desmontou a hegemonia do hoje senador Esperidião Amin (PP).
A “onda Lula” não se repetiu em 2006, quando o Estado preferiu Geraldo Alckmin com os mesmos 56% dados a Lula anos antes. Em 2010 e 2014, a tendência de rejeição ao PT prosseguiu: Dilma Rousseff perdeu para José Serra e Aécio Neves, com apenas 38,71% e 30,74% dos votos. Em 2018 e 2022, o estado consagrou Jair Bolsonaro com 65,82% e 62,21%, elegendo também para o governo os candidatos que levantavam bandeiras bolsonaristas.
O PT afirma que tem pesquisas indicando que mesmo com um cenário de adesão a Bolsonaro, Lula é um grande puxador de votos no estado, com cerca de 33% da população afirmando que votaria em um candidato apoiado pelo presidente. Além disso, com relação às filiações partidárias, há um equilíbrio entre PT e PL, com cerca de 7% cada do total de eleitores filiados, apesar de o PL ter praticamente dobrado o seu número em quatro anos.
Jorginho Mello vai faltar à inauguração com a desculpa de uma reunião com governadores do Sul e do Sudeste no Espírito Santo. “Já era esperado. Não recebeu ministros nas 26 vezes em que estiveram em Santa Catarina. Isso prova que ele está mais preocupado em não se indispor com bolsonaristas, não exercendo seu papel institucional. É como se eu fosse receber uma visita e saísse de casa”, comentou o deputado estadual Fabiano da Luz (PT).
O parlamentar vai representar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina nas duas solenidades, num gesto da presidência da Casa ao papel da bancada do PT na vinda do presidente ao estado. “O clima é bem diferente de 2022. Na época, a estratégia era não deixar o Lula circular, mas agora ele é o presidente, com resultados para apresentar. O clima é mais ameno e tranquilo, muito melhor do que o da última vez”, pondera Fabiano, sobre a diferença dessa visita com relação à última, o comício às vésperas do primeiro turno que reuniu milhares de militantes no Centro de Florianópolis.
O deputado também vê Lula como uma presença importante para consolidar seu papel político no Estado, o que pode ter impacto no cenário eleitoral. “Lula tem uma ligação com o povo muito forte. Sua presença é importante porque ele vai entregar obras que são um marco para o Estado. É uma agenda estratégica para a economia de Santa Catarina”.
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