Vivemos um tempo em que políticos que se dizem cristãos e defensores da família são capazes dos atos mais cruéis.
Três desses espécimes foram capazes de quebrar uma placa afixada na rua em homenagem à vereadora assassinada a tiros junto com seu motorista, no centro do Rio.
Desde essa performance grotesca, em quase todas as manifestações ou homenagens à memória de Marielle Franco aparece ao menos um espírito de porco para vociferar.
Tem sido assim nesses seis anos.
Como se não bastasse a dolorosa espera pelo desfecho da investigação do crime e a identificação do mandante e seus motivos, familiares e amigos de Marielle volta e meia ainda têm que assistir demonstrações bizarras de falta humanidade dos extremistas que xingam a vereadora.
Não se pode banalizar esse tipo de coisa. Por isso, vamos ao replay: políticos que se autodefinem como cristãos e defensores da família volta e meia se mobilizam para ofender uma mulher que foi vítima de um assassinato.
É enorme, como se vê, a profundidade do poço em que estamos metidos.
Um desses espetáculos mórbidos aconteceu ontem, na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, quando deputados bolsonaristas se puseram a xingar Marielle. Isso aconteceu na véspera do sexto aniversário de morte da vereadora do PSOL.
Não vale a pena citar os nomes desses personagens bisonhos. Basta saber que um deles é ex-delegado, conhecido por tentar compensar com gritos a falta de inteligência que marca suas argumentações na Casa. Um outro, também ex-policial, é famoso pelas agressões verbais contra mulheres parlamentares — costume que o tornou réu em vários processos, alguns com condenação.
Para além do asco que essas figuras inspiram, no entanto, talvez seja interessante perguntar: por que fazem isso?
A resposta não confirma somente a pequenez desses extremistas de direita, também mostra o gigantismo de Marielle e de tudo o que ela representa.
Ou essa gente não se daria esse trabalho.
O fato de uma mulher negra, oriunda da favela e lésbica, ter seu legado e sua luta celebrados em todo o país e em várias partes do mundo é difícil de engolir.
Quem mandou puxar o gatilho da arma que matou Marielle e Anderson certamente se surpreendeu com a monumental repercussão do caso. Imaginava que a essa altura o crime já estaria esquecido.
É verdade que seis anos depois ainda não foi identificado o mandante do crime, mas também é verdade que a cobrança pela elucidação dos culpados não dá sinais de que vá parar.
Com isso, o nome da vereadora assassinada firma-se cada vez mais como símbolo de todas as lutas que incomodam a extrema direita.
Pode-se dizer que alguém capaz de atormentar tanto essas monstros tenha de fato morrido?
Não é difícil responder.
Mesmo desagradáveis, os rosnados selvagens desses bolsonaristas irritadiços são a prova de que, mais do que um bordão vazio ou um slogan clichê de passeata, Marielle realmente vive.
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