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Meio Ambiente

Seca em Manaus força 100 grandes indústrias a convocar férias coletivas

Seca impede o transporte dos navios cargueiros, que trazem os contêineres da Ásia com os insumos (partes e peças) para o setor de eletroeletrônico.
18/10/2023 | 07h18

Das mais de 100 grandes indústrias do Polo Industrial de Manaus (PIM), 35 irão dar férias coletivas para 17 mil trabalhadores a partir do dia 25 deste mês até 4 de novembro. As informações são do repórter Leanderson Lima, do site Amazônia Real.

As férias antecipadas, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas (Sindmetal-AM), Valdemir Santana, é por causa da baixa navegabilidade dos rios da Amazônia.

Segundo ele, a seca impede o transporte dos navios cargueiros, que trazem os contêineres da Ásia com os insumos (partes e peças) para o setor de eletroeletrônico. Ele diz que essas indústrias já estão com problemas de estoques para tocar a produção.

Valdemir Santana afirma que os segmentos mais atingidos são os que produzem celulares, notebooks, condicionadores de ar e televisores, ou seja, o carro chefe do Polo Industrial de Manaus.

“Vamos assinar um acordo amanhã (17) com as indústrias para que nenhum trabalhador seja demitido. Geralmente nossas férias são em dezembro, mas com a seca hoje não tem um navio sequer vindo para cá (Manaus)”, disse o sindicalista à Amazônia Real. “A Black Friday já está prejudicada”, concluiu.

MENOR NÍVEL EM 120 ANOS

Nesta segunda-feira (16), a vazante (descida das águas) no rio Negro chegou ao nível  de 13,59 metros – o menor em 120 anos, desde que a medição foi iniciada, em 1902, no Porto de Manaus. O recorde anterior é de 24 de outubro de 2010, quando o manancial atingiu o nível  de 13,63 metros. A estiagem severa levou 50 dos 62 municípios do Amazonas ao estado de emergência.

Em algumas cidades e comunidades ribeirinhas, a falta de chuvas deixou os rios, lagos e igarapé tão secos que uma população de quase 500 mil pessoas está isolada pela via fluvial. Há problemas também no transporte dos carregamentos de alimentos, soja, combustível e gás de cozinha.

Conforme os dados dos Indicadores de Desempenho do Polo Industrial de Manaus, divulgados pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), o Polo Industrial gera hoje 110.667 postos de trabalho diretos, incluindo empregados efetivos, terceirizados e temporários.

O sindicalista Valdemir Santana critica a falta de sinalização nos rios, o que fica sempre mais evidente em períodos de forte estiagem.

“Nossos rios não são sinalizados. Todo mundo sabe que o nosso transporte é pelo rio,  e não sinaliza. Como pode o nosso estado, que é o maior pólo eletroeletrônico da América Latina, não ter este sistema? Isso é uma questão de governo mesmo, se bem que estamos começando um governo (Lula 3), mas são coisas que não podem mais acontecer”, lamenta.

FALTA DE HIDROVIAS

Por meio de nota, o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), Nelson Azevedo, também critica as dificuldades enfrentadas pelas indústrias do Estado devido à falta de hidrovias.

“Há muito tempo reivindicamos a sinalização das nossas hidrovias para a dragagem dos rios, a fim de melhorar a navegação, sinalização dos rios para o transporte seguro e para quando chegar essa época não haver esse problema”, diz, lembrando que o último trimestre do ano é essencial para a Zona Franca de Manaus (ZFM), pois é o período para escoamento dos produtos por conta de datas comerciais movimentadas, como a Black Friday (última sexta-feira de novembro) e o Natal.

Também por meio de nota, o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM) detalhou o problema enfrentado pelas embarcações que levam insumos ao Polo Industrial de Manaus.

Segundo o CIEAM, as balsas conseguem passar por trechos com profundidade inferior a dois metros (os navios precisam de pelo menos oito metros), porém transportam menos carga de um navio e não conseguem desenvolver muita velocidade, em razão das restrições atuais de navegabilidade, o que eleva o tempo do percurso e também implica custo maior de transporte, por causa das despesas adicionais com a armazenagem dos materiais por mais tempo nos portos e as transferências imprevistas de contêineres.

Ainda conforme a Comissão de Logística do CIEAM, os contratempos elevaram entre 25% e 50% o custo de frete na região.

CAMINHÕES PARADOS

Em Manaus, filas de caminhões seguem estacionados sem poder seguir viagem por conta da estiagem. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (FAEA), Muni Lourenço, elenca os problemas causados ao setor pela estiagem.

“Os principais gargalos decorrentes da intensa estiagem são a dificuldade de acesso logístico de insumos e também o comprometimento do escoamento da produção rural. Além disso, a forte estiagem tem prejudicado a produtividade no setor primário”, pontua.

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