Por Jose Gomes Temporão*
Para os que viajam de avião com frequência pelo país, um fenômeno chama a atenção. Pouco usual em aeroportos da Europa e Estados Unidos, ele atende pelo nome de algazarra, escarcéu, alvoroço, balbúrdia, barulheira, estardalhaço ou gritaria.
Refiro-me ao cotidiano de funcionamento de nossos principais aeroportos com seu ininterrupto processo de chamada para embarque de voos, convocação de passageiros para despacho obrigatório de malas, alertas para que fulano se apresente imediatamente para embarque ou que sicrano se dirija ao portão 18 ou ainda a última chamada para voos e partidas.
No caso do aeroporto Santos Dumont, por suas características arquitetônicas, esse continuum chamativo adquire dimensões críticas, sem falar na algaravia do aeroporto de Congonhas, onde não há descanso possível para nossos ouvidos e mentes.
Efeitos do som
Sabemos que a exposição ao ruído excessivo pode nos provocar sintomas e quadros clínicos diversos como irritabilidade, ansiedade, dor de cabeça, zumbido, tontura, estresse, falta de concentração, comprometimento cognitivo, alterações de memória, dificuldades da comunicação e insônia entre outros.
Curiosamente trabalhadores e passageiros não reclamam ou se manifestam, como se essa “trilha sonora”, ou “jabuticaba” aeronáutica, sempre tivesse estado ali como a paisagem ou as cadeiras instaladas para aguardarmos pelo próximo voo.
O fato tem seu agravante no fato de que nem sempre o nível sonoro ou as vozes que nos chamam tem um tom agradável. Então ao excesso de decibéis soma-se muitas vezes uma voz de gralha rouca ou aguda a ponto de romper tímpanos e bom senso. Trinta ou sessenta minutos sob esse bombardeio, tira qualquer um do sério.
Existem vários estudos sobre o ruído aeronáutico nos arredores dos aeroportos e o impacto de pousos e decolagens no ambiente e na saúde humana, mas não há preocupação com essa dimensão interna à operação dos aeroportos que afeta funcionários e passageiros.
É preciso estabelecer estratégias e processos educativos para que as empresas aéreas nos protejam de mais essa fonte de ruído urbano desnecessário e evitável. Com a palavra a ANAC.
*Médico, ex-ministro da saúde e Membro Titular da Academia Nacional de Medicina
Deixe um comentário