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Tarcísio de Freitas busca eleitor moderado ao negar ‘bolsonarismo raiz’, diz especialista

No discurso, Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirma que não tensionará Poderes da República; na prática, a gestão do ex-ministro de Bolsonaro tem ações que trazem a digital do bolsonarismo mais primitivo.
19/10/2023 | 05h00

Por Nicolás Satriano

Muitos duvidam, mas Tarcísio de Freitas (Republicanos) jura que não é “bolsonarista raiz”. De qualquer modo, são os atos do governador de São Paulo que indicam o contrário. Seja nomeando um policial ex-Rota (o temido grupo Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) para chefiar a Secretaria de Segurança Pública ,ou vetando ampliar a vacinação contra o vírus HPV, tudo o que toca a gestão de Tarcísio acaba deixando uma digital do bolsonarismo – ainda que repaginado.

Eleito com mais de 13,4 milhões de votos (parte deles transferidos pelo apoio de Jair Bolsonaro), em 2022 Tarcísio afirmou, em entrevista à CNN, que nunca foi um “bolsonarista raiz”. E acrescentou:

“Não vou fazer o que erramos no governo federal de tensionar com Poderes. Vamos conversar com ministros do STF. E (Luis Roberto) Barroso é um ministro preparadíssimo, razoável”.

As declarações não pararam em Barroso e fizeram espumar o séquito do ex-presidente. Principalmente, porque na entrevista Tarcísio marcou um distanciamento crítico de Bolsonaro. Enquanto presidente da República, Bolsonaro apostou no conflito e na mobilização do “gabinete do ódio”. Ainda assim, durante esses dez meses de governo, Tarcísio tomou medidas que devem orgulhar o ex-chefe.

DERRITE NA SEGURANÇA E ANTIFEMINISTA EM SECRETARIA

Como exemplo de medidas que fariam Bolsonaro vibrar, para chefiar a Segurança Pública paulista Tarcísio escolheu o deputado federal Guilherme Muraro Derrite (PL-SP). O parlamentar, também conhecido como Capitão Derrite, foi tenente da Rota, da PM, e chegou a afirmar que “policial bom tem que ter pelo menos três homicídios no currículo”.

Com Derrite à frente da Segurança, a PM paulista protagonizou uma das ações mais sangrentas já vistas no estado. No Guarujá, litoral paulista, durante 40 dias PMs fizeram incursões para prender os autores do assassinato do policial Patrick Bastos Reis.

A Operação Escudo disseminou o terror na região e, por fim, deixou 28 mortos naquela que passou a ser a ação mais letal da polícia paulista desde o Massacre do Carandiru, em 1992, com 111 presos assassinados.

Outra indicação de cunho bolsonarista foi Sonaira Fernandes (Republicanos) para a Secretaria da Mulher. Vereadora de São Paulo, ela é antifeminista e autora de frases como: “O feminismo é o grande genocida do nosso tempo, essa ideologia imunda mata mais que guerras e doenças. Só uma pessoa cega para a verdade não enxerga isso”.

SUCESSO APARENTANDO MODERAÇÃO

Para o cientista político Claudio Couto, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), a estratégia adotada pelo governador ao refutar o título de “bolsonarista raiz” é ser beneficiado por ambos os lados. Uma espécie de “ganha ganha” de Tarcísio, em que ele se coloca como a opção mais à direita para os bolsonaristas, mas ao mesmo tempo se vende como um político moderado – considerado até centro direita por alguns.

“É uma tentativa de ter o bônus dos dois lados. (…) Ele tem essa postura de alguém que seja mais moderado, mais comedido. Ele procura atrair um eleitor mais moderado. Tenta se aproveitar desse estilo pessoal e ganhar dos dois lados”, analisou Couto.

Até agora, o cientista polítco avalia que a estratégia de Tarcísio tem sido bem sucedida. Couto considera que muitas pessoas têm a percepção do governador como um político de centro direita (e não extrema direita). Outro fato que marca essa diferença, diz o especialista, é a filiação a um partido distinto ao do ex-presidente: Tarcísio é do Republicanos, e Bolsonaro, do PL.

E sobre o “fogo amigo” sofrido por Tarcísio, principalmente quando disse não ser “bolsonarista raiz”, Couto analisou que uma postura mais institucional no cargo de governador faz com que ele fique nesse “fio da navalha”.

“O tempo inteiro ele vai estar sujeito aos setores mais radicais, que ‘querem sangue’. Ele tenta se comportar como um governador. Não faz sentido comprar briga com o governo federal”, ressaltou Couto.

 

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