ICL Notícias
Economia

Apenas 2% de taxação sobre a fortuna dos super-ricos ajudaria a aumentar em até 10 vezes o orçamento do Meio Ambiente

O cálculo é do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made/USP) e foi divulgado ontem (22).
23/05/2024 | 14h49

Se o imposto mínimo de 2% sobre riqueza do 0,2% de super-ricos existentes no Brasil fosse aplicado, o valor arrecadado chegaria a R$ 41,9 bilhões por ano, valor suficiente para triplicar o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia e aumentar em mais de 10 vezes o orçamento do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas de 2023.

O montante equivale ainda a cerca de 25% do total gasto com o Bolsa Família em 2023, ano de investimento recorde no programa.

O cálculo é do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made/USP) e foi divulgado ontem (22). O estudo foi feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e nos dados de renda e riqueza da Receita Federal de 2022.

Segundo o estudo, o percentual de 0,2% mais rico do país equivale a um universo de 267.460 mil pessoas que têm riqueza declarada de mais de R$ 13 milhões e uma renda média mensal de R$ 218 mil.

“O perfil de riqueza desses 0,2% é bem diferente do resto da população”, explicou o economista Guilherme Klein, professor da Universidade de Leeds (Reino Unido) e pesquisador associado do Made/USP.

“No Brasil, o único grupo que paga menos de 2% de imposto de renda são os 0,2% do topo — atualmente o imposto de renda dessa faixa da população é de cerca de 0,8% de sua riqueza”, afirma Klein.

A maior parte da riqueza do grupo dos super-ricos é composta por ativos financeiros, como ações, fundos de investimentos, títulos de dívida, letras de crédito, entre outros.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu, no âmbito do G20 (fórum econômico internacional que reúne nações ricas e emergentes), um imposto global sobre riquezas. No entanto, os Estados Unidos já se posicionaram contrariamente à ideia.

O estudo do Made/USP foi feito com base na proposta dos economistas franceses Thomas Piketty, Gabriel Zucman e Emmanuel Saez em seu relatório global de 2022 de criar um imposto global mínimo sobre a riqueza dos bilionários.

Super-ricos: maioria dos brasileiros possui riqueza declarada em bens imóveis

Enquanto o 0,2% muito rico tem o dinheiro investido em ativos, a grande maioria dos brasileiros que possui alguma riqueza declarada (27% da população) têm o montante acumulado em imóveis — em média, R$ 97 mil. “Em geral, são as casas onde as pessoas moram”, disse o economista.

A análise do Made/USP leva em consideração que os ativos financeiros que compõem a riqueza dos 0,2% no topo são muito mais fáceis de movimentar, por terem liquidez, o que não é o caso de bens imóveis.

“Os super-ricos podem facilmente mudar de local e movimentar suas riquezas, que são compostas por ativos financeiros e, por essa natureza, são mais móveis”, disse Klein. “Inclusive é uma coisa que a gente mostra na pesquisa também. Por isso, é tão importante que haja uma articulação política global para tornar viável a proposta”, complementou.

Segundo o pesquisador, existe uma dificuldade adicional de que a riqueza costuma ser subestimada nos dados da Receita Federal. Por isso, o grupo analisou o potencial de arrecadação da taxação mínima sobre o grupo do 0,2% mais rico, que atualmente pagam menos de 2% de imposto sobre sua renda.

O pesquisador afirmou que essa taxação dos 2% de imposto sobre o 0,2% mais rico ajudaria também a reduzir a regressividade do sistema tributário — ou seja, o fato de que, hoje, os mais ricos pagam proporcionalmente menos impostos no Brasil.

“Apesar da recente reforma tributária que tentou tornar o sistema mais progressivo, a alíquota efetiva [a razão entre o total de impostos e a renda] do 0,2% no topo é de apenas 4%. Enquanto isso, para 98% da população, ela é de 12% em média”, explicou Klein.

“Com a aplicação do imposto mínimo de 2% sobre o 0,2% mais rico, sua alíquota efetiva sobe para 10%, ou seja, você reduz a regressividade — mas mesmo assim os super-ricos continuariam pagando proporcionalmente menos impostos do que o resto da população. Então não é algo que seria absurdo do ponto de vista de progressividade tributária”, frisou.

Redação ICL Economia
Com informações da BBC Brasil

Deixe um comentário

Mais Lidas

Assine nossa newsletter
Receba nossos informativos diretamente em seu e-mail