
Vivian Mesquita e Pamela Rosa
Sou especialista em esportes de ação desde que me entendo como jornalista, já contei isso aqui. Hoje divido essa paixão com o ICL. Em 2019 eu gravei a primeira temporada da minha série Te Conto No Caminho (reapresentada até do final de dezembro na ESPN2 e ESPN3) sobre a trajetória de grandes estrelas dos esportes de ação.
A bicampeã mundial de street Pamela Rosa, de 24 anos, está na série. Hoje recebi a mensagem de uma mãe, que nos acompanha no ICL, cuja filha de 7 anos é skatista e sonha em ser profissional. Ela disse que conhecer a história da Pamela, assistindo ao TCNC, fez crescer uma certeza no coração, “minha filha é capaz”! Guardem essa palavra: capaz!
Tia Evânia (como gosta de ser chamada) é a mãe de Pamela. Ela conta que ainda menina, aos 8, 9 anos de idade, a filha já mostrava talento. Tudo começou na porta de casa em São José dos Campos, interior de São Paulo. Da janela, os pais viram a menina subir num skate pela primeira vez e descer a rua como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. A partir dali ela não pensava em outra coisa, só estar em cima de um skate.
“Ela estava chorando na pista porque queria um skate pra andar, mas a gente não tinha dinheiro. Meu marido, naquela manhã, tinha deixado o dinheiro da água e da luz em cima da mesa. Eu fui na cidade pagar as contas, mas acabei comprando um skate pra ela. Meu marido disse, você comprou o skate pra ela? Comprei! Com que dinheiro? Da água e da luz! E agora? Eu respondi: deixa cortar!”
Pamela coleciona seis medalhas nos X Games – o principal evento dos esportes de ação no mundo -, dois títulos mundiais, fez a sua estreia olímpica em Tóquio e já rodou o globo em seu carrinho.
Do skate veio a grana para sair da casa de três cômodos para outra maior, onde Pamela tem um quarto cheio de troféus. Ela é patrocinada por uma das maiores marcas da atualidade, é reconhecida e celebrada onde chega.
Além do talento e do trabalho dessa jovem skatista, porque é um baita trabalho as sessões intermináveis de treinos, as viagens, lidar com as lesões e com tudo que ela teve que abrir mão tão jovem, Pamela tinha um combustível a mais. Foi uma frase dita para a mãe dela. “Uma pessoa, quando soube que ela disputaria o primeiro X Games, me disse que ela não era capaz, que ela jamais iria para aquele evento porque ela não era capaz.”
Pamela Rosa tinha apenas 13 anos de idade em 2013, quando recebeu o convite para os X Games Foz do Iguaçu. Eu estava lá fazendo a cobertura. O nervosismo natural e a novidade de dividir as pistas com os melhores skatistas do planeta abalou a garota, mas a redenção veio no ano seguinte. X Games Austin, 2014, medalha de prata para Pamela Rosa. O primeiro ouro veio em 2016 e com ele o registro no Guinness Book como a mais jovem medalhista do evento aos 16 anos de idade.
A gente sabe que muitos jovens talentosos em diversos esportes não alcançam as mesmas vitórias que ela alcançou, especialmente os mais pobres, não é uma questão de meritocracia. Mas é bonito demais acompanhar a caminhada dessa menina que acordava às 4 da manhã para ir competir de ônibus, só com o dinheiro da condução e um biscoito na mochila, e que transformou uma conta de luz e de água numa das trajetórias mais bonitas do esporte brasileiro.
Chegando ao fim de um ano tão pesado e triste, compartilhar boas histórias é um alívio para o coração.
E para aquele bobão que disse que ela não era capaz? O que você diria pra ele? Mande aqui nos comentários! Prometo que vou enviar todos para a Tia Evania 😉
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