O psicanalista Alfredo Jeruzalinski tem uma frase sensacional: como conter o gozo da sociedade sem ser tirânico? Eu parafraseio para fazer a pergunta do título.
Há vários indícios de que o Brasil flerta perigosamente com as milícias e correlatos. A intervenção militar no Rio promovida pelo “competente” General Braga Netto (contém ironia) mostrou bem o que é fazer furo na água.
Aliás, depois do que descobrimos pós 8 de janeiro, vimos que o Exército está virando manchete policial – deixam roubar armas dos quarteis. Espantoso, não?
Gastamos fortunas com segurança externa (guerra contra quem?) e aqui dentro os milicianos e crime organizado queimam 35 ônibus numa pegada. Em retaliação. Queimam ônibus e fornecem vans, fazendo inclusive um bom negócio com o terror. Não fosse trágico, seria só patético. Sob as barbas do Estado.
No governo Temer, no Ceará a polícia entrou em greve. Polícia em greve? O grande ministro (sarcasmo) Moro passou pano.
O conjunto da obra mostra que tinha razão o caricato Conselheiro Acácio do romance Primo Basilio (Eça de Queiroz; atenção: não “essa é do Queiroz”, aquele que…!): as consequências vêm sempre depois!
Queimar 35 ônibus e vagões de trem é guerra. Terror. O que acontece? Onde foi que erramos? As autoridades sabem onde mora o miliciano e o chefe do tráfico. Ou seja: há uma conivência com o anti-estado.
Sigo. Para dizer que talvez não tenhamos nos dado conta de que a segurança é um problema. Um problema sério e que a violência atinge muito mais aos pobres do que aos ricos.
Números aterradores: 29,8% das comunidades cariocas são dominadas por milicianos e traficantes. Números autoexplicativos.
Por que será que se elegem tantos deputados e senadores com discurso paradoxalmente contra a violência que eles mesmos incentivam? Veja-se: o governador do Rio foi reeleito.
Por que a população das comunidades reféns do crime e das milicias votam no discurso “bancada da bala”? E reelegem Castro? Vejam a composição dos parlamentos… Tudo também autoexplicativo.
Enquanto a esquerda (progressistas lato sensu) não conseguir responder a essas grandes questões continuaremos sob o domínio das bancadas da bala e das milicias e crime organizado.
Ou alguém acredita que, do modo como se está enfrentando “esse estado-de-coisas”, há alguma chance de conseguirmos segurança pública para a população pobre com respeito aos direitos humanos?
Os ricos sabem se proteger. Quem sofre, de verdade, com a violência é a população pobre. Por isso é que, paradoxalmente, ela vota no discurso de quem diz que a defende. Sabemos que isso é retroalimentação.
O crime organizado e as milicias dominam as comunidades periféricas. Vejamos os números.
Quando aprenderemos que os cidadãos têm direito fundamental à segurança e que cada um de nós possui o direito fundamental de não ser assaltado e de não ter que pagar pedágio para miliciano?
Há um best seller, de Lionel Schirever, chamado Precisamos Falar sobre o Kevin. Quem era Kevin? Era um menino que matou mais de 20 coleguinhas em um colégio. E a mãe diz para o pai: querido, precisamos falar sobre o Kevin.
Acho que sim, pois não?
E nós precisamos falar sobre segurança pública.
Relacionados
Com aval do STF, Eduardo Paes aposta no liberou geral das polícias no Rio de Janeiro
Prefeito do Rio assume ‘populismo progressista’ na preparação de sua campanha ao governo do estado, aliando-se ao bolsonarismo e aproximando-se do presidente salvadorenho Nayib Bukele
Projeto da Guarda Municipal armada é aprovado em segunda discussão na Câmara do RJ
Projeto agora seguirá para promulgação pelo presidente da casa, vereador Carlo Caiado (PSD), e modificará a Lei Orgânica do Município
Tiroteio em Copacabana (RJ) causa 5 mortes durante operação da Core; veja vídeos
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram um helicóptero da Polícia Civil sobrevoando a Ladeira dos Tabajara