Por Bruno Lucca
(Folhapress) — As universidades federais atingidas pela greve de professores começam a repensar seu ano letivo, mais de dois meses após o início do movimento.
Parte delas decidiu suspender o calendário acadêmico, enquanto durar a paralisação, e admite terminar as atividades previstas para 2024 somente em 2025. Outras ainda não definiram o que fazer e enfrentam debates internos.
O Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior) consultou no início deste mês as 54 universidades em greve sobre a possibilidade de suspensão do calendário, visando evitar que estudantes sejam prejudicados. Mais de 30 responderam.
Algumas, como FURG (Universidade Federal do Rio Grande) e UFU (Universidade Federal de Uberlândia), resolveram cancelar seu planejamento deste ano. Outro grupo, composto por UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e UFPB (Universidade Federal da Paraíba), por exemplo, resolveu seguir com as atividades.
No caso paraibano, a resolução veio do reitor, Valdiney Gouveia. Os professores da instituição, em assembleia na última semana, haviam votado pela suspensão do calendário. Valdiney vetou na sexta-feira (14), desagradando a docentes e alunos, que protestaram.
Ainda há universidades que disseram ao Andes estarem deliberando sobre o ano letivo, sem data para definição dos rumos.
Noutra situação, a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), já fora da greve e com retorno às aulas no dia 10, decidiu readequar seu calendário e terminar as atividades previstas para este ano somente em fevereiro 2025.
Enquanto as instituições deliberam sobre o ano letivo, estudantes se dizem preocupados com o futuro.
Prestes a se formar em ciências contábeis na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Rodrigo Sousa, 23, não sabe se irá apresentar seu trabalho de conclusão quando agendado, para meados de novembro. A situação, relata, é “frustrante”.
A reportagem perguntou ao MEC (Ministério da Educação) sua posição sobre o calendário das universidades federais. O ministério de Camilo Santana respondeu com o link de uma notícia publicada sobre as negociações pelo fim da greve dos docentes, ignorando o questionamento.
Greve ultrapassa os dois meses sem perspectiva do fim
A paralisação dos professores de universidades federais foi iniciada em 15 de abril. Eles pedem reajuste salarial e recomposição do orçamento dos centros de ensino.
Os servidores reivindicam aumento de 3,69% em agosto deste ano, 9% em janeiro de 2025 e 5,16% em maio 2026. Brasília oferece 9% em janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026.
O governo Lula (PT) oferece reajuste a partir de 2025 e afirma, através do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, não ter possibilidade de melhorar a proposta.
Segundo os grevistas, a greve não termina enquanto Brasília resistir ao acréscimo já neste ano. A gestão petista tenta acalmar os ânimos com outras propostas.
Em meio a cobranças, o governo lançou um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na segunda-feira (10) para as universidades federais e para os hospitais universitários, com previsão de R$ 5,5 bilhões em investimentos.
O ministro da Educação também anunciou um acréscimo de recursos para o custeio das instituições federais, em um total de R$ 400 milhões. Desse total, R$ 279,2 milhões serão para as universidades e outros R$ 120,7 milhões para os institutos federais.
Assim, o orçamento de 2024 dos centros de ensino chega a R$ 6,38 bi. O valor já é superior aos R$ 6,26 bi de 2023. Os valores, porém, já eram previstos no orçamento deste ano e foram somente adiantados, como mostrou a Folha de S. Paulo.
Universidades Federais ainda em greve
- Universidade Federal do Rio Grande
- Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
- Universidade Federal do Ceará
- Universidade Federal do Cariri
- Universidade de Brasília
- Universidade Federal de Juiz de Fora
- Universidade Federal de Ouro Preto
- Universidade Federal de Pelotas
- Universidade Federal de Pelotas
- Universidade Federal de Viçosa
- Universidade Federal do Espírito Santo
- Universidade Federal do Maranhão
- Universidade Federal do Pará
- Universidade Federal do Paraná
- Universidade Federal do Sul da Bahia
- Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
- Universidade Tecnológica Federal do Paraná
- Universidade Federal de Rondônia
- Universidade Federal de Roraima
- Universidade Federal de São João del-Rei
- Universidade Federal de Pernambuco
- Universidade Federal de Catalão
- Universidade Federal do Oeste da Bahia
- Universidade Federal de Santa Maria
- Universidade Federal de Tocantins
- Universidade Federal do Rio Grande do Norte
- Universidade Federal Fluminense
- Universidade Federal de Alagoas
- Universidade Federal do Agreste de Pernambuco
- Universidade Federal Rural de Pernambuco
- Universidade Federal de São Paulo
- Universidade Federal da Bahia
- Universidade Federal do ABC
- Universidade Federal Rural da Amazônia
- Universidade Federal Rural da Amazônia
- Universidade Federal de Campina Grande
- Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
- Universidade Federal do Triângulo Mineiro
- Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
- Universidade Federal do Acre
- Universidade Federal de Lavras
- Universidade Federal de São Carlos
- Universidade Federal de Goiás
- Universidade Federal de Santa Catarina
- Universidade Federal do Amapá
- Universidade Federal do Sergipe
- Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
- Universidade Federal da Integração Latino-Americana
- Universidade Federal do Oeste do Pará
- Universidade Federal de Mato Grosso
- Universidade Federal de Uberlândia
- Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
- Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri
- Universidade Federal do Piauí
*Segundo o Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior)
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