Por Laura Kotscho
Por quebra de decoro e reiterada conduta machista, a vereadora Vanessa da Rosa (PT), de Joinville, denunciou o vereador de extrema direita Wilian Tonezi (PL) no Conselho de Ética da Câmara. A denúncia, feita na última semana de março, foi aceita por 10 votos a 2 e agora Tonezi está sob investigação.
O vereador é acusado de atacar o movimento feminista — ao qual chamou de “sanguinário” e “assassino” — e de difamação contra três parlamentares da assembleia. Tonezi chegou a mandar, aos gritos, uma colega se calar durante reunião da Comissão de Urbanismo: “Eu tô falando, a senhora fique quieta!”, “Eu tô falando, a senhora fique quieta!”, “Eu tô falando, a senhora fique quieta!”
O caso aconteceu durante as atividades legislativas nos dias 24, 25 e 26 de fevereiro, quando o vereador agrediu verbalmente as vereadoras Vanessa da Rosa (PT), Liliane da Frada (Podemos) e Vanessa Falk (Novo). Elas discursavam na tribuna para celebrar os 93 anos da conquista do voto feminino no Brasil e a participação da mulher na política.

O vereador Wilian Tonezi foi o mais votado de Santa Catarina com mais de 9 mil votos. (Foto: Reprodução)
Foi quando o vereador interrompeu a sessão afirmando que, sempre que houver na Câmara algum discurso desse tipo, ele irá “expor as feministas e o que elas defendem”.
Em outro momento, o político do PL usou seu tempo na tribuna para desqualificar a histórica luta feminista por mais direitos, dizendo que “não há nada mais triste e mais pervertido do que as mulheres feministas”. Ele ainda afirmou que movimento tem como objetivo a destruição das famílias.
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Em entrevista ao ICL Notícias, Vanessa da Rosa afirmou que entrou com a denúncia no Conselho de Ética e ressaltou que o vereador bolsonarista cometeu violência política de gênero, infringindo a Lei Federal n°14.192/2021, que pune parlamentares com atitudes intimidatórias e discriminatórias contra mulheres no exercício da política.
Em seu perfil da rede social X, a ministra das mulheres, Cida Gonçalves, prestou solidariedade a Vanessa da Rosa e condenou os ataques de Tonezi: “A violência política de gênero não pode ter lugar. Não vamos nos calar”.
Leia entrevista com a vereadora Vanessa da Rosa
ICL Notícias – Foi a primeira vez que o vereador Wilian Tonezi fez esse tipo de ataques ou isso aconteceu outras vezes?
Vanessa da Rosa – Essa não é a primeira vez que o vereador faz esse tipo de abordagem agressiva. As manifestações se intensificaram a partir do dia 24 de fevereiro, quando eu fiz uma menção na tribuna em relação aos 93 anos da conquista do voto feminino. A partir daí, aos gritos, sempre aos gritos, ele [Wilian Tonezi] disse que toda vez que alguma mulher falasse de feminismo, ele iria rebater. É uma tentativa de nos intimidar e desmerecer as nossas pautas. Ele tenta o tempo todo nos silenciar.
Como é o ambiente na Câmara de Vereadores de Joinville?
Apesar de ser majoritariamente branco e masculino — nós somos só quatro parlamentares mulheres –, o ambiente é, em geral, respeitoso. O vereador Tonezi é que age com total falta de decoro parlamentar. Ele tenta nos calar e isso é muito grave, é um desrespeito a nós mulheres. Ele está infringindo a Lei Federal nº 14.192/2021 que diz que violência política de gênero é crime.
Como os vereadores homens da Câmara reagiram aos ataques de Tonezi?
O placar de 10 a 2 [para aceitar a denúncia no Conselho de Ética] diz muito sobre a postura dos vereadores e como eles acolheram essa denúncia. O ambiente fica insalubre. Porque quando você tem um parlamentar gritando o tempo todo com as mulheres, você está atingindo os homens também, porque se está desvirtuando o caráter do debate político.
Qual a importância de entrar com esse pedido no Conselho de Ética?
Se o Conselho de Ética é a instância responsável por agir nesse tipo de problema, então a gente tem que fazer valer esse Conselho. Nós não podemos ficar só no debate, temos que fazer valer as instituições. Acho relevante também que essa denúncia tenha partido de uma mulher negra que está no seu primeiro mandato, que teve o apoio das outras mulheres e que os homens entenderam que nós merecemos respeito. Espero que esse movimento sirva para empoderar mulheres a agirem da mesma forma. Não podemos admitir que nenhum homem tente nos impedir de trabalhar.
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