Desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República, em janeiro de 2019, a extrema direita elegeu a cultura como um de seus alvos prioritários. Por quatro anos, artistas de todas as modalidades foram maltratados pelos bolsonaristas, que fizeram chover fake news sobre beneficiados pela Lei Rouanet.
Trataram representantes de todas as artes como figuras desprezíveis, sempre em busca de alguma “mamata”, que em troca nada faziam pelo país.
O Ministério da Cultura, que poucos anos antes teve o luxuoso comando de Gilberto Gil, foi rebaixado a secretaria.
Para tomar conta do setor, o bolsonarismo escalou Roberto Alvim, um personagem sinistro que foi demitido dez semanas depois por fazer um vídeo com discurso cheio de frases semelhantes às do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels (!). Depois vieram a delirante Regina Duarte e o inexpressivo Mário Frias.
Durante todo o mandato de Bolsonaro, os agentes de cultura foram achincalhados, desprestigiados, ameaçados e perderam verbas.
Os bolsonaristas não aprenderam uma lição que a História tem repetido há séculos: os valores culturais não são destruídos tão facilmente. É o que nos prova, por exemplo, a cultura afro-brasileira, que resistiu à opressão da escravidão e ainda resiste ao preconceito. É o que mostrou a música, o cinema, o teatro e outras expressões que vicejaram nos anos 60 e 70, apesar da censura da ditadura militar.
Bastou que o governo Bolsonaro terminasse para que os artistas retomassem a efervescência de sua atividade (ainda em condições distantes das ideais, especialmente os iniciantes). Músicos, atores, escritores, produtores voltaram a criar como sempre.
A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro, longe de ser um aval gringo para o seu trabalho, que toda crítica e todo o público brasileiro já consagrou, é um tapa na cara da extrema direita, que renega a excelência dos artistas nacionais.
Se os falsos patriotas não acreditam nos talentos de seu país, tiveram que engolir agora a conquista de um dos principais prêmios internacionais. Logo nos Estados Unidos, terra que tanto adoram.
A pitada de ironia final foi que a vitória de Fernanda Torres aconteceu pela atuação no filme em que interpreta Eunice Paiva, a viúva do homem que a ditadura militar sequestrou e fez desaparecer para sempre.
Além de louvar a arte brasileira,o prêmio chama atenção para a infâmia que foi o Regime Militar no Brasil, horror que Bolsonaro e seus generais insistem em aplaudir.
Perderam duas vezes.
Viva Fernanda Torres! Viva Eunice Paiva!
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