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Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

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Malafaia, o queridinho da imprensa

A imprensa brasileira se exime da obrigação básica que é lembrar ao leitor quem é Silas Malafaia
18/02/2024 | 06h23

Houve um tempo em que o genial Caetano Veloso era procurado com tanta frequência para dar entrevistas que ele próprio resolveu dar uma pausa. Cansado de opinar sobre os mais variados assuntos da vida nacional, o artista ficou um período sem falar com jornalistas. Volta e meia esse fenômeno se repete, a mídia fica obcecada por algum personagem, que é entrevistado à exaustão.

Pelo que se vê no noticiário, o atual “Caetano Veloso” da imprensa brasileira é o pastor evangélico Silas Malafaia.

Não é de hoje que Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, é figurinha fácil nos jornais e sites. Mas especialmente a partir da chegada de Jair Bolsonaro à Presidência, ele passou a aparecer em manchetes como uma espécie de conselheiro do presidente da República, figura poderosa a quem jornalistas recorrem para saber a opinião política. Nos últimos dias, o pastor tem frequentado a mídia ainda mais intensamente por ser o idealizador da manifestação do dia 25, para a qual Bolsonaro convocou seus apoiadores a pretexto de se defender das acusações de golpe de Estado.

Tanto na época da gestão de Bolsonaro como agora, a imprensa brasileira se exime da obrigação básica que é lembrar ao leitor quem é Silas Malafaia.

Notório disseminador de fake news; golpista que tentou incitar as Forças Armadas a uma ruptura institucional; ativista contrário a medidas de prevenção da Covid, como o isolamento social; autor de injúrias contra jornalistas e influenciadores que o criticam; defensor das teses mais reacionárias da extrema-direita. Esse é Malafaia.

No campo religioso, é um sujeito que há décadas explora financeiramente a fé alheia, induzindo os fiéis a gastarem seu pouco dinheiro com doações altíssimas, que, segundo ele, vão garantir a graça divina.

O pastor também é especialista em usar a religião para angariar votos em favor dos políticos que apoia e atacar os adversários, misturando louvor com discursos partidários.

Para muitos jornalistas, o fato de estar à frente de uma ramificação religiosa e ter muitos seguidores (tanto no mundo real quanto no virtual) é o bastante para justificar seus frequentes pitacos políticos. É preciso corrigir: a autoridade de um entrevistado sobre assuntos importantes, como é a política, não deveria advir do tamanho de seu rebanho, mas principalmente de sua idoneidade.

Malafaia é uma figura que tem credibilidade?

Essa pergunta pode ser facilmente respondida pela maioria dos brasileiros, mas aparentemente não por alguns jornalistas, que tratam o pastor como uma espécie de oráculo, sem um pingo de visão crítica. Muitas vezes servem mais como assessores de imprensa que repórteres, abrem microfones e páginas de sites para que ele ataque adversários políticos, enalteça aliados e defenda as teses mais esdrúxulas.

Não há dúvida: de Caetano Veloso a Silas Malafaia, a escolha do opinador-geral da República piorou muito.

Poucos fatos podem atestar mais claramente como a imprensa ajuda de forma decisiva a escalada da extrema-direita no Brasil.

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