O Observatório do Marajó, ONG que trabalha para desenvolver políticas públicas no arquipélago paraense, manifestou um alerta contra campanha que liga a região à exploração e à violação sexual de crianças e adolescentes.
A nota pública foi divulgada ontem. “A propaganda que associa o Marajó à exploração e abuso sexual não é verdadeira: a população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes. Insiste nessa narrativa quem quer propagá-la e desonrar o povo marajoara”, diz o texto.
A ONG explica que há redes criminosas em todo o país, não sendo exclusividade da ilha.
“Para proteger as crianças da violência, o caminho é o fortalecimento do sistema de proteção e garantia de direitos das crianças e dos adolescentes”, destaca outro trecho da nota, intitulada de “Não acredite em tudo o que vês na internet”.
“O Marajó pede socorro e não é de hoje”, escreveu ontem a senadora Damares Alves (Republicanos) no Twitter. A postagem veio após a cantora gospel paraense Aymeê lançar a música “Evangelho de Fariseus”, que cita diretamente o arquipélago paraense e supostas violações de direitos humanos.
Nomes como Rafa Kalimann, Thaila Ayala, Gkay, Luisa Sonza, Ludmilla, Gabi Martins e MC Daniel fizeram publicações cobrando autoridades locais sobre o combate aos crimes. As postagens não detalham nenhum caso ou apresentam dados oficiais.
A ex-ministra de Jair Bolsonaro afirmou em sua rede social que tentou resolver o suposto problema na região durante sua passagem pelo governo, mas que a priorização do combate à pandemia impediu um melhor resultado.
A onda de fake news sobre a Ilha de Marajó surgiu em 2022 com a própria Damares Alves, então titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e conhecida difusora de informações falsas. A parlamentar disse na ocasião que ouviu “nas ruas” relatos sobre estupro e tráfico de crianças no Marajó. Como aconteceu em outros episódios, a ex-ministra não apresentou provas das denúncias.
“Enquanto ministra de Estado, Damares Alves não destinou os recursos milionários que por diversas vezes prometeu para a região, para fortalecer comunidades escolares. Ao invés disso, atentou contra a honra da população diversas vezes, espalhando mentiras, e abriu tais políticas públicas para grupos privados de São Paulo que defendem a privatização da educação pública”, relata o texto do Observatório do Marajó.
Relembre o caso
Em 2022, a ex-ministra Damares afirmou que o Ministério havia descoberto um esquema de tráfico de crianças no arquipélago, durante discurso em um culto da Assembleia de Deus, em Goiânia. Segundo ela, as crianças traficadas seriam submetidas a mutilações corporais e regimes alimentares para facilitar abusos sexuais.
Na época, o Ministério Público Federal (MPF) afirmou, em nota, que “nos últimos 30 anos, nenhuma denúncia ao MPF sobre tráfico de crianças no Marajó mencionou as torturas citadas por Damares”.
Após a repercussão do caso, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) determinou que o Ministério informasse detalhadamente todos os casos de denúncias recebidas pela pasta entre 2016 e 2022.
De acordo com análise do jornal Estado de São Paulo, os relatórios apresentados pela ex-ministra para buscar comprovar as denúncias não continham provas. O veículo verificou o documento de 2.093 páginas dos relatórios de três CPIs enviados pela assessoria de Damares, e diz não ter encontrado os fatos que ela alegou terem ocorrido na Ilha de Marajó.
Em setembro de 2023, o Ministério Público Federal ajuizou uma ação civil pública contra a ex-ministra. Procuradores solicitaram pagamento de multa de R$ 5 milhões por Damares. Segundo o MPF, as informações divulgadas pela atual senadora eram “falsas e sensacionalistas”. A Justiça ainda não deu sua decisão definitiva sobre o caso.
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